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De 31 de dezembro de 2009 a 8 de abril de 2010, 258 pessoas morreram no estado do Rio de Janeiro por causa das fortes chuvas que atingem o estado, até a atualização feita por volta das 20h20 da noite desta quinta-feira (8) pelo Departamento Geral da Defesa Civil do Rio de Janeiro.

O número deve aumentar, segundo o órgão, conforme as equipes de resgate encontram mais corpos da chuva desta semana.

Além dos mortos, outras 418 pessoas saíram feridas e mais de seis milhões foram de alguma maneira afetadas. O número total de desabrigados (aqueles que tiveram que deixar suas casas e não tinham onde ficar) chegou a 7.221 e o de desalojados (os que tiveram que deixar suas casas, mas encontraram abrigo com amigos ou parentes), a 24.336 (a maioria dessas pessoas, no entanto, já tem onde ficar).

Niterói é a cidade com o maior número de mortes, 107 – 105 desta semana e mais duas que morreram quando uma casa no bairro de Santa Rosa desabou em 31 de dezembro. Em seguida está o Rio de Janeiro, com 55, e Angra dos Reis, com os 53 mortos do revéillon.

Para o ex-diretor do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo, o geólogo Álvaro Rodrigues dos Santos, o tamanho do estrago é "indesculpável".

"Diante do histórico desses acontecimentos e dos alertas todos que o meio técnico carioca vêm dando para que providências sejam tomadas, é muito triste constatar mais uma vez um número tão exagerado, tão enorme, tão absurdo de vítimas", afirmou ele ao G1.

"Não há nenhuma justificativa, nenhuma inexorabilidade, para que essas mortes aconteçam. Nós temos todos os instrumentos para dizer quais lugares que podem ser ocupados e como. Nenhuma dessas mortes é aceitável", diz ele.

"Teríamos condição de evitar todas. Sabemos perfeitamente que toda a região do Sudeste brasileiro é uma região propensa a escorregamentos. Você tem escorregamentos mesmo sem a presença humana. Todo o nosso conhecimento já produziu um fundamental espetacular para evitar esse tipo de tragédia".

O engenheiro civil Alberto Sayão, da PUC-Rio, explica que grandes deslizamentos ocorrem periodicamente no Rio de Janeiro. "O Rio tem condições de topografia, geologia e clima que são favoráveis a esse tipo de coisa. Então a cada dez ou quinze anos mais ou menos nós temos uma ocorrência dessas. Tivemos em 1966 e 1967, depois 1988, daí 1996 e agora", explica. "Dizer que é inesperado é impossível", afirma.

Ele, no entanto, reconhece que o volume de chuva que atingiu o estado, principalmente na última semana, foi "excepcional". "É mais ou menos o que aconteceu em Santa Catarina há um ano e meio atrás. Nesses casos sempre vai ocorrer deslizamento. É impossível que não ocorra. Mas poderia ter sido minimizado o efeito desse temporal. O problema é gestão, é ocupação desordenada", diz ele.

Essa é a mesma avaliação da geógrafa Ana Lúcia Nogueira de Paiva Britto, pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ela, o número de 13 mil domicílios em áreas de risco na cidade do Rio de Janeiro, informado pelo prefeito Eduardo Paes, não é alto o suficiente para justificar a dificuldade em resolver o problema.

"Não é um número nem tão alto assim, porque você poderia pensar num programa habitacional para abrigar essas pessoas", afirma. Ela diz que não existe um programa de habitação que atenda as necessidades das classes mais pobres. "Não é uma faixa salarial da indigência, são pessoas que estão empregadas, que têm uma renda. Mas elas não têm uma forma de entrar no mercado de habitação formal", acredita.

O engenheiro Francis Borgossian, presidente da Associação das Empresas de Engenharia do Rio de Janeiro (Aeerj), concorda. "As pessoas não querem sair porque o morro é perto do emprego, porque o sistema de transporte é precário. Elas ficam achando que não vai cair e ficam até que a coisa cai. O que falta é dinheiro, é investimento para que essas pessoas tenham condições de morar em outro lugar", avalia. "A parte positiva dessa desgraça é abrir os olhos das pessoas para resolver isso", afirma Borgossian.

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