Análise
Trabalho de prevenção de técnicos precisa ser contínuo
Agência Estado
As medidas anunciadas pelo governo para enfrentar os efeitos das chuvas no Sudeste serão eficazes se o trabalho dos técnicos for contínuo e se esses profissionais ajudarem prefeituras pequenas a elaborar projetos de reconstrução, dizem especialistas ouvidos pela reportagem. Professores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) elogiaram a decisão de enviar geólogos e hidrólogos às áreas mais afetadas, mas ressalvaram que o trabalho precisa continuar ao longo de todo o ano.
"Você acha que prefeitura do interior de Minas Gerais e de outros estados tem hidrólogo e geólogo para fazer projeto? Se tiver um engenheiro para acompanhar a construção civil já é muito. Se o governo queria ajudar, devia ter enviado os técnicos no ano passado. O ideal é que seja um trabalho permanente", afirma a professora da Escola de Arquitetura da UFMG Beatriz Alencar DAraujo Couto, especialista em planejamento urbano e regional.
O governo também anunciou a liberação de R$ 444 milhões para obras. Especialista em contas públicas, o consultor Raul Velloso diz que, no caso das enchentes, "o problema não é falta de recurso, mas de baixa capacidade de gestão".
Em 2011, na tragédia das chuvas na Região Serrana fluminense, a máquina pública demonstrou rapidez nos gastos emergenciais. No mesmo dia em que a tempestade arrasou a região, matando mais de 900 pessoas, a presidente Dilma Rousseff assinou medida provisória liberando R$ 700 milhões para o Ministério da Integração Nacional e mais R$ 80 milhões para a reconstrução de estradas, a cargo do Ministério dos Transportes. Dois dias depois, os recursos chegaram, segundo o Portal da Transparência da União: R$ 24 milhões da União foram transferidos para as prefeituras de Nova Friburgo (R$ 10 milhões), Teresópolis (R$ 7 milhões) e Petrópolis (R$ 7 milhões).
Subiu para 15 o total de óbitos provocados pelas chuvas no estado do Rio de Janeiro. Somente no distrito de Jamapará, em Sapucaia (145 km do Rio), divisa com Minas Gerais, foram confirmadas ontem 13 mortes devido a um deslizamento de terra ocorrido na terça-feira. Ontem, a Defesa Civil localizou mais cinco corpos, segundo a prefeitura.Quatro vítimas foram parcialmente identificadas: Lívia Gomes, 22, Gloria Nascimento, 72, André (sobrenome não revelado), 34, e Jorge Luiz Carvalho Lemos (idade não revelada) outra mulher não foi identificada. Ainda segundo a Defesa Civil, ao menos outras dez pessoas podem estar soterradas. Entre elas, uma família que se abrigou em um Fusca ao perceber a gravidade da chuva.
Os trabalhos de resgate continuam com a ajuda de máquinas e cães farejadores. O prefeito Anderson Zanon (PSD) diz ter recebido uma ligação do comandante do Exército, general Enzo Martins Peri, que "não descartou a possibilidade de ajudar na busca de vítimas da tragédia". Não choveu na região na manhã de ontem.
Doze pessoas morreram em um deslizamento que destruiu a Rua dos Barros e cobriu ao menos oito casas. Outra pessoa morreu quando a casa em que estava, em outra área do distrito, desabou.
Com 4 km de extensão e cerca de 300 metros de largura, Jamapará está localizada inteiramente em uma encosta do Rio Paraíba do Sul e sofre com deslizamentos frequentemente.
A Secretaria Estadual de Saúde montou um miniposto de saúde na igreja do distrito para dar suporte às ações emergências de atendimento médico às vítimas do deslizamento.
Além do posto, um Centro Integrado de Educação Pública está sendo usado pelos moradores da região, recebendo os desabrigados. De acordo com a secretaria, a lista de cadastrados no Programa Saúde da Família vai complementar as informações de moradores para que seja criada uma lista unificada de desaparecidos.
Segundo a prefeitura, até o fim da tarde de ontem seria publicado o decreto de situação de emergência, que acelera o recebimento de verbas.
Além das mortes registradas em Sapucaia, outras duas já tinham sido confirmadas em Laje de Muriaé e outra em Paty do Alferes. Por causa das fortes chuvas que atingem o estado, nove rodovias permanecem total ou parcialmente interditadas. Nas regiões norte e noroeste do estado, cerca de 12,8 mil pessoas tiveram de deixar suas casas.
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