Ciclistas que pedalavam pelo Centro de Curitiba na manhã ensolarada deste domingo (20) puderam aproveitar para pedir proteção divina em “dose tripla”. Um frei capuchinho, um budista e um praticante Hare Krishna abençoaram bikers e suas bicicletas. Promovida pelo segundo ano consecutivo, a iniciativa tem por objetivo difundir a ampliação do uso das bicicletas, ao mesmo tempo em que prega a boa convivência entre as crenças religiosas.
“Essas três religiões têm muito mais pontos em comum do que divergências. Todas buscam a unidade entre o ser humano e Deus. Mas apenas elas dizem isso de forma diferente”, disse o frei capuchinho Edson.
Os pequenos altares foram instalados no Escritório Verde da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Na bênção católica, frei Edson usou uma oração de São Francisco de Assis, santo identificado aos animais e ao meio ambiente. “Achei que tinha muito a ver com a ideia do evento. A intenção dessa prece é devolver à pessoa a paz que ela vem buscar, uma paz ampla e que engloba tudo”, explicou.
A benção budista incluía água com lótus, borrifada com um raminho de hortelã. A intenção do gesto é simbolizar a purificação. Em seguida, o budista Milton Sato soava um pequeno sina, entoando o mantra “Om mani padme hum”, invocado para compaixão. “A compaixão interna é obscurecida pelo dia a dia. Esse mantra, se repetido, ajuda a eliminar o que não seja compaixão. Isso também é purificação”, disse.
Já no altar Hare Krishna, os ciclistas recebiam uma pequena dose de água no topo da cabeça, também como simbologia de purificação. Em seguida, eram convidados a dizer o mantra Hare Krishna, com os nomes de Deus. “É uma prática que todos podem fazer, até andando de bicicleta”, apontou o praticante Jay Vrindavana Dasa.
A ciclista Alessandra Cristina de Souza ficou sabendo da iniciativa enquanto pedalava pelo entorno e aproveitou para pedir proteção. Católica, ela fez questão de receber a benção dos três religiosos. “Toda coisa boa é bem vinda. Proteção divina é sempre bom”, disse ela, que exerce a profissão de bancária e que pedala todos os finais de semana.
Já o professor e cicloativista Nestor Saavedra pediu benção não só para ele, mas também para sua bicicleta, chamada de Lola. A bike, um modelo italiano na marca Bianchi, também saiu do local com a tripla proteção. “Eu sou cristão, mas acho muito interessante essa interação entre as religiões. Isso tem tudo a ver com o ideal da bicicleta”, avaliou.
Religiosos ciclistas
Além da devoção por Deus, os três religiosos têm em comum apoio ao cicloativismo. O frei Edson, por exemplo, trabalhou por quatro anos como carteiros, antes de seguir sua vocação. Na ocasião, pedalava diariamente em serviço. O budista Milton Sato ainda depende do carro para trabalhar, mas incentivou os filhos a adotarem a bicicleta como principal meio de locomoção. “Eu fico muito feliz de saber que os jovens de hoje já não têm aquele fissura em ter um carro”, apontou.
Jay Vrindavana Dasa, por sua vez, é professor e, por muitos anos, ia de bicicleta até a escola em que trabalhava. Após ter sido transferido, ele se viu forçado a usar o transporte público, mas não abre mão de pedalar todos os dias. “Além de ser um meio de locomoção sustentável, a bicicleta provoca a reflexão sobre fenômenos como o consumismo e o individualismo”, resumiu.
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