No bairro
Mutirão ajudou a limpar as margens do Rio Bacacheri
Iniciativas de mobilização popular também estão fazendo a diferença nos bairros de Curitiba. A Associação Mãos Amigas surgiu em janeiro dentro do conjunto Abaeté, no Boa Vista. Com centenas de pessoas envolvidas, o grupo lançou o projeto "Zeladoras do Planeta", com ações práticas e de conscientização sobre o cuidado com o meio ambiente. A Praça Anna Maurer Rutz é um dos locais que o movimento faz manutenção permanente.
Lixo
Bem ao lado da praça, passa o Rio Bacacheri, onde sofás e pedaços de carros já foram encontrados. Em abril, um mutirão limpou a margem do rio que servia como depósito de lixo e criou um jardim. Parte dos resíduos encontrados foram reutilizados, como os pneus, que viraram vasos coloridos para as plantas. "Falta comprometimento da população com o lixo, muitos jogam em qualquer lugar. Nosso objetivo é mudar isso e cuidar do espaço ao nosso redor, diz Raquel Pontes Maciel Romaminiv, colaboradora da associação.
O Batel no centro das discussões
Mobilizações para preservar praças no bairro do Batel têm um histórico recente, um bem sucedido e outro nem tanto. Em 2007, a divisão da Praça Miguel Couto, a Pracinha do Batel, foi parar na Justiça. Na época, o "Movimento Amigos do Batel", contrário à obra, até tentou, mas não conseguiu impedir a passagem da rua pelo meio da praça. O grupo argumentou que a intervenção era estritamente para atender a interesses comerciais dos empreendedores que iriam construir um shopping na região. A prefeitura, por sua vez, disse que o antigo contorno na praça comprometia a fluidez do trânsito no local.
Discórdia
No ano passado, o motivo da discórdia foi a Praça do Japão, na divisa com o bairro Água Verde. A construção de uma estação-tubo para a passagem do ligeirão Norte-Sul iria comprometer parte da área verde da praça. Como reação, um grupo de moradores e comerciantes realizou um abaixo-assinado com 17 mil assinaturas que resultou em audiências públicas e a suspensão do projeto original.
Moradores de Curitiba contrariados com decisões polêmicas ou omissões do poder público estão se organizando em grupos de pressão para recuperar espaços urbanos. Iniciativas como os movimentos Ciclo Iguaçu e "Salvemos o bosque da Casa Gomm" são protagonistas de ocupações conscientes, que procuram dar uma finalidade mais nobre aos espaços de uso coletivo degradados ou prestes a desaparecer. Essas intervenções englobam ainda a preservação do meio ambiente.
A Associação de Ciclistas do Alto Iguaçu (Ciclo Iguaçu) enxergou em um terreno baldio de 130 m2, no centro histórico da capital, a possibilidade de um respiro e de um espaço para convivência. A "Praça de Bolso do Ciclista", na esquina da Rua São Francisco com a Presidente Faria, começou a sair do papel há nove dias, quando os tapumes foram retirados e deu-se início à terraplanagem no terreno, que é da prefeitura. O município cedeu o local para a criação da praça. O logradouro será erguido com a ajuda de voluntários, evitando assim o longo processo que dependeria de recursos públicos e licitações.
A ideia é bem parecida com o conceito dos "pocket parks", previstos no novo plano diretor da cidade de São Paulo e realidade nos Estados Unidos há décadas. Esses espaços são menores que uma praça (por isso Praça de Bolso), usam terrenos baldios e podem ser criados entre construções para servir como área de lazer para quem mora e trabalha no entorno.
Demandas
No último fim de semana, mutirões de trabalho começaram e devem se prolongar até 15 de junho. "Estamos acostumados a fazer as demandas, precisamos participar mais da cidade, do rumo que ela vai tomar", explica Jorge Brand, coordenador da Ciclo Iguaçu. A administração municipal colabora com parte dos materiais e equipamentos necessários, enquanto as pessoas colocam a mão na massa.
"A intervenção urbana faz parte da cidade. O espaço público de convivência deve ser mais valorizado e é desejável que setores da sociedade se proponham a isso", diz Carlos Hardt, coordenador da pós-graduação em gestão urbana da PUC-PR. Brand ressalta a importância da construção da praça pelas pessoas, não apenas do ponto de vista da prática cidadã, mas também pela sensação de pertencimento que o processo gera. "A praça já nasce com um cuidado especial, existe um vínculo maior entre as pessoas e a cidade", define.
Além de ponto de lazer com bancos, paraciclo e espaço para horta e jardinagem, o grupo pretende incentivar atividades educativas e culturais na nova praça. "Quanto mais o espaço é usado, mais seguro ele tende a ser", explica Hardt. "Queremos que isso seja replicado em outras localidades. Movimentos de Fortaleza e até de Lisboa estão atrás de terrenos procurando dar mais respiro aos centros de suas cidades", conclui Brand.
Unidos pelo bosque da Casa Gomm
Outro grupo que atua na preservação urbanística é "Salvemos o bosque da Casa Gomm". O coletivo surgiu no meio do ano passado, quando obras de mobilidade para minimizar o impacto da construção do shopping Pátio Batel quase dividiram ao meio a área restante. Uma liminar da Justiça garantiu a não abertura da Rua Hermes Fontes e o novo traçado acabou contornando o local. A Casa Gomm, tombada pelo Conselho Estadual de Patrimônio Histórico e Artístico (Cepha), foi transferida justamente para essa área não desmatada no fundo do terreno. A criação de uma via no local, no entanto, não está descartada e ainda dá calafrios no grupo.
Desde então, todos os sábados pessoas se reúnem no local e realizam atividades que vão da leitura ao cultivo de uma horta comunitária. "Descobri na internet, me identifiquei com a causa e também queria contribuir", conta Elli Nowatzki, moradora do Boqueirão, que desde fevereiro dá aulas gratuitas de tai chi chuan no bosque. "O local é maravilhoso, central, não pode sofrer mais", diz Samuel Lago, morador do Mossunguê e que integra o movimento.
O grupo não quer mais intervenções na região e defende a criação de um parque para que a área fique protegida e seja um espaço de bem-estar para a população. O momento é bom para que a ideia do "shopping center da cidadania a céu aberto", como eles dizem, vire realidade. O diálogo com o poder público já foi ruim, mas hoje está em curso. "Estamos fazendo reuniões com eles [população] e temos o interesse coincidente na concepção do parque. Também há o plano de fazer uma trilha ecológica para conscientização das áreas verdes no meio urbano", afirma o secretário municipal do Meio Ambiente, Renato Lima.
O movimento popular já tem planos para o local, caso se torne um parque. Entre eles, fazer ressurgir o rio canalizado, retirar as grades da casa e criar uma galeria de esculturas de João Turin. "Nós oferecemos a licença para que as esculturas e os baixos-relevos sejam reproduzidos, faltaria apenas o financiamento das réplicas", diz Samuel Lago, que faz parte da família que detém os direitos legais do acervo do artista paranaense.
Um exemplo de parceria que deu certo
O projeto da Praça de Bolso do Ciclista foi elaborado por arquitetos do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) em parceria com a Ciclo Iguaçu. Já a terraplanagem ficou a cargo da Secretaria Municipal de Obras Públicas (SMOP), devido à necessidade de maquinário e operador. A construção será em regime de mutirão dos voluntários e está dividida em quatro etapas: pavimentação, revestimento, mobiliário e paisagismo.
Para quem deseja colaborar com a praça, o coletivo vai oferecer algumas oficinas, como a de bioconstrução (construção com terra), mosaicos (que vão revestir parte do local), petit-pavet (parte do pavimento) além de jardinagem e horta que farão parte do paisagismo.
Os interessados em participar da construção da praça podem se inscrever em http://bit.ly/participedapraca ou simplesmente aparecer na esquina da São Francisco com a Presidente Faria nos próximos fins de semana até a conclusão da obra.
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