O principal núcleo fora da Universidade Federal do Paraná (UFPR) no desvio de R$ 7,3 milhões de bolsas de estudo e pesquisa da instituição entre 2013 e 2016 era em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba. Uma das acusadas de liderar o esquema, a servidora Tânia Marcia Catapan, ex-secretária administrativa do gabinete Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFPR mora na cidade, onde também residem outros sete pessoas presas pela Polícia Federal (PF) quarta-feira (15) na Operação Research, que deteve 29 pessoas no Paraná, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul.
É o caso de Charlene de Mello, funcionária de uma padaria em São José dos Pinhais, presa quarta-feira. Ela aceitou conversar com a reportagem apenas por Whatsapp - a conversa aconteceu antes de a Operação Research ser deflagrada, já que a Gazeta do Povo vinha apurando as irregularidades na UFPR desde dezembro de 2016. Nas respostas, Charlene negou ter envolvimento com a fraude e disse que nunca fez pesquisas para a UFPR.
Questionada sobre o motivo de o nome e o CPF dela estarem no Portal da Transparência do governo federal como destinatários de R$ 49 mil transferidos da universidade, ela disse que iria verificar os dados do portal e daria retorno. Mas acabou não atendendo mais as ligações da Gazeta do Povo.
Diferentemente da irmã, Dayane Silva dos Santos, que trabalha como atendente de uma loja de autopeças em São José dos Pinhais, afirmou ter feito pesquisas para a UFPR. E disse que os recibos da prestação do serviço estavam com Conceição Abadia de Abreu Mendonça, uma das servidoras da UFPR presas na quarta-feira (15). “Eu prestei serviços muito tempo atrás. Tanto que não tenho ciência desse valor. Trabalho por dia, pago aluguel. Se eu tivesse todo esse dinheiro, pelo menos uma casa própria eu iria ter”, defendeu-se em conversa com a reportagem também antes da operação da PF.
Há cinco depósitos vinculados ao CPF de Dayane no segundo semestre de 2016. Juntos, somam mais de R$ 50 mil. “Qualquer informação sobre a bolsa, você pode procurar a universidade. Recibo, está tudo com a Conceição”, informou. Dayane disse que é estudante de Pedagogia, mas não quis revelar de qual instituição. Ela também foi presa na quarta.
Além das irmãs, a cabeleireira Cherri Francine Concer também é da cidade da região metropolitana. Ela afirma que cortava o cabelo de Tânia e que foi indicada por ela para Conceição para ajudar em pesquisas. Eu fazia e não perguntava nada. Só fazia o meu trabalho. Eu sou leiga nisso. A Conceição era uma pessoa da universidade, como é que eu iria desconfiar? Acho que o cargo dela era muito importante lá dentro, para conseguir fazer uma coisa dessas”, argumentou.
Laranjas
O advogado de Charlene, Dayane e Cherri, que também defende Tânia e mais sete acusados, Marlon Bizoni Furtado, afirma que seus clientes foram laranjas na história. Segundo ele, essas pessoas assinaram procurações que acabaram sendo usadas para abrir contas e que a maioria sequer ficava com o cartão bancário dessas contas.
“Todas foram laranjas dessa situação. São pessoas humildes que receberam uma oportunidade para assinar procurações, que efetivaram a abertura de algumas contas. Mas muitos deles sequer têm cartão da agência. Eles acabaram recebendo valores irrisórios para manter essa conta ativa, em alguns casos R$ 300”, disse Furtado.
O advogado conta que os bolsistas citaram Conceição Abadia de Abreu Mendonça, chefe da Unidade de Orçamento e Finanças da PRPPG no período em que o esquema se desenvolveu, como o contato delas na universidade. “Mas eles acreditam que ela também foi usada”, argumentou.
Sobre a ex-secretária administrativa do gabinete da pró-reitoria de pesquisa e pós-graduação da UFPR Tânia Marcia Catapan, o advogado afirmou que o envolvimento dela é um equívoco. “Alguns documentos se deterioraram durante a ocupação estudantil e foram jogados fora. Ela não tem nada a ver com isso”, defende o advogado.
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