Há cinco anos, a dona de casa Rosana Vaz de Oliveira Miguel, de 58 anos, tem a mesma rotina: de manhã e à tarde, ela vasculha os vasos de planta que enfeitam a varanda de sua casa, em Sarapuí, interior de São Paulo, em busca de possíveis criadouros do mosquito Aedes aegypti. Os recipientes de lixo úmido e reciclado ficam fechados e até restos de flores que podem acumular água são recolhidos. “Fazia isso quando nem se falava em dengue, imagine agora.”
A cidade, de 9.027 habitantes, na região de Sorocaba, é uma das poucas do Estado que não registraram, neste ano, casos de dengue, febre chikungunya e vírus zika, doenças transmitidas pelo mosquito. Isso não significa que não há risco: no primeiro semestre do ano passado, Sarapuí teve 89 casos positivos de dengue e o mosquito ainda circula na cidade, segundo o diretor de Saúde do município, Marcos Paulo Machado. “Nas buscas por criadouros, encontramos e eliminamos larvas do mosquito, então é preciso continuar a vigilância”, disse.
Desde 2011, a cidade promove mutirões contra a dengue. Numa das ações, a prefeitura conseguiu que um grande depósito de pneus velhos fosse eliminado. O antigo depósito de lixo também foi desativado. Sarapuí, agora, coleta os resíduos e encaminha para um aterro sanitário particular, instalado em Iperó, município próximo. O trabalho de orientar a população é constante, segundo o diretor. A cidade foi dividida em setores abrangendo os cerca de 2,8 mil imóveis e os sete agentes não têm dificuldade para entrar nas casas. “Até hoje, não registramos recusas”, disse Machado. Neste mês, eles passam a trabalhar também aos sábados.
Por falta de pacientes, as três unidades de saúde, entre elas a Unidade Mista de Pronto-Atendimento, que funciona também nos fins de semana, estão quase sempre vazias. Faixas nos principais acessos e folhetos distribuídos nas escolas reforçam os alertas. “No desfile do aniversário da cidade, neste domingo, o combate ao Aedes vai ser o tema principal”, afirmou o diretor.
Sustos
Mesmo assim, os sustos são frequentes, segundo ele. Ontem, um morador da zona rural procurou atendimento em Salto de Pirapora, a cidade mais próxima, com sintomas parecidos com dengue. “Felizmente, fizeram vários exames e já descartaram as doenças do Aedes.” Em fevereiro, dois moradores voltaram de viagem com febre, mas não era dengue.
O risco maior, segundo o diretor, deve-se ao fato de Sarapuí depender de cidades maiores e próximas que têm casos de dengue e das outras doenças, como Sorocaba e Itapetininga. “Nossos moradores viajam para essas cidades para estudar, fazer compras ou em busca de atendimento médico especializado.”
Sorocaba, a 50 km, é o destino mais procurado e teve epidemia de dengue em 2015, com mais de 50 mil casos. Neste ano, a cidade registrou também casos de zika e chikungunya. Por isso, Maria Georgina Felix, que embarcava ontem numa ambulância da prefeitura de Sarapuí rumo ao Hospital Regional de Sorocaba, levava um frasco de repelente na bolsa. “Não viajo sem ele”, disse.
O mecânico José Augusto Pontes também seguia para o hospital sorocabano com ramos de citronela no bolso. “É melhor do que repelente”, afirmou. Já a aposentada Anésia Bonini, de 66 anos, disse que a dengue ainda não chegou a Sarapuí neste ano por sorte. “Tem muito lixo espalhado, a gente reclama e não acontece nada.” Outro morador, o auxiliar de escritório Moisés Barreto, de 37 anos, mostrou uma rua tomada por erosões profundas e com água parada. “Isso aqui, para o mosquito, é o paraíso.” Em sua casa, porém, ele disse que toma todos os cuidados.
De acordo com o diretor de Saúde, a cidade foi castigada por um temporal na quarta-feira e o mau tempo ainda não permitiu que os estragos fossem reparados. “O mosquito precisa de alguns dias para procriar e não vamos dar esse tempo a ele.”
Estado
Em janeiro, conforme dados do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde, 92 dos 645 municípios paulistas não registraram casos de dengue. O levantamento de fevereiro não estava concluído até ontem, mas pelo menos 40 dessas cidades já haviam reportado casos de dengue, zika ou chikungunya. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.