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Francisco das Chagas Brito: crimes no Maranhão demoraram a ser descobertos | Zezé Arruda/Arquivo EFE
Francisco das Chagas Brito: crimes no Maranhão demoraram a ser descobertos| Foto: Zezé Arruda/Arquivo EFE

Carisma

Imagem de criminoso é falsa

A ideia comum de que o assassino em série é uma pessoa carismática e hábil para convencer suas vítimas não costuma corresponder à realidade, diz a psiquiatra Thatiane Fernandes. Para ela, trata-se de uma visão "romantizada" dos psicopatas.

"Se ele [assassino] não tem a capacidade de se sentir mal pelo que ele fez ao outro nem a capacidade de se culpar, qualquer manifestação de afeto é muito superficial."

Em regiões pobres, diz ela, ele oferece "o que as pessoas não têm". Em Luziânia, segundo a polícia, Ademar Jesus da Silva propunha dar dinheiro a vítimas que o auxiliassem no transporte de materiais de construção.

O também psiquiatra Eduardo Teixeira diz que agressores do tipo com frequência se sentem atraídos por alvos que estão em uma posição de fragilidade. "É muito comum se aproximar de alguém que tem limitação mental ou criança. Estar em uma situação de superioridade desperta no sádico uma libido diferente. É a principal causa", afirma.

São Paulo - Cidades periféricas, em que crimes em série tendem a receber menos atenção tanto da polícia quanto da imprensa, podem ser chamarizes para "serial killers" como o que matou seis jovens em Luziânia (GO). A escritora Ilana Casoy, que pesquisa crimes desse tipo, diz não ser coincidência que casos de grande repercussão no Brasil nos últimos anos envolvam "locais mais inóspitos".

Um dos casos citados por ela é o de Francisco das Chagas Brito, já condenado por mortes no Maranhão e suspeito de ter feito 40 vítimas. Ele era conhecido na comunidade onde vivia, na região de São Luís, mas seu crime demorou quase 15 anos para ser descoberto.

Em Luziânia, seis rapazes de 13 a 19 anos que moravam em um bairro na periferia desapareceram num período de 24 dias. O mistério permaneceu até o fim de semana passado, quando o pedreiro Ademar Jesus da Silva foi preso e indicou um local na região rural onde havia corpos enterrados.

Condenado por violência sexual no DF, ele fora libertado uma semana antes do primeiro desaparecimento na cidade.

Para Casoy, as mães que se mobilizaram para denunciar os desaparecimentos tinham "pouca voz". "Existe mais empenho quando o caso ocorre numa cidade grande, onde a polícia é mais efetiva e mais atenta." Em Lu­­ziânia, a Polícia Federal acabou entrando no caso.

A escritora cita ainda outro caso de ataques em série, contra 12 meninos no interior gaúcho em 2004. As mortes foram investigadas inicialmente como homicídios ligados ao tráfico de drogas – um homem já foi condenado por oito dessas mortes.

O psiquiatra forense Eduardo Teixeira, professor da PUC de Campinas (SP), afirma que cidades pequenas podem oferecer um convívio social em que há facilidade de acesso do criminoso à vítima. "Talvez na cidade grande as pessoas tendam a se proteger mais", diz.

Os especialistas também veem a pobreza dessas localidades como um fator de vulnerabilidade para que jovens sejam vítimas desse tipo de agressor.

"(Eles propõem) coisas que um menino de classe média talvez não fosse (aceitar). ‘Você me ajuda a carregar umas telhas e eu te dou R$ 10.’ Não é motivação suficiente para uma criança de classe média ou alta", diz a psiquiatra Thatiane Fernandes, que trabalha no Hospital das Clínicas de SP e como perita da Justiça Federal.

Para ela, locais onde as crianças "ficam ociosas e passam muito tempo na rua" facilitam o trabalho dos assassinos em série, mas não são o fator determinante para a atuação deles. Diz, por exemplo, que já houve tentativas de crimes do tipo em Hi­­gienópolis, bairro nobre na região central de São Paulo.

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