A saída diária dos estudantes das universidades de Curitiba da década de 60 significava não o fim do dia letivo, mas o início de novas atividades acadêmicas. Depois da aula, os universitários se encontravam para discutir principalmente política estavam em período da ditadura militar , cultura e história. Sob o slogan do cineclube universitário "Cultura, Controvérsia e Crítica", reuniam-se para debater cinema mundial; encontravam-se nas casas dos colegas; frequentemente estavam na sede do Diretório Central dos Estudantes falando sobre produção cultural; e organizavam feiras de livros.
Décadas depois, com o prédio histórico da Universidade Federal do Paraná (UFPR) como símbolo de Curitiba, a efervescência acadêmica praticamente desapareceu. Sem os tradicionais pontos de encontro e movimentos dos anos 60, a população universitária parece estar adormecida, apontam os próprios acadêmicos. Adormecida, porém numerosa.
Com os câmpus espalhados na Curitiba de 1,8 milhão de habitantes, o peso dos universitários só é notado quando se somam os números de leste a oeste, norte a sul. São 105.176 graduandos, divididos em 42 instituições de ensino superior, segundo dados do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), de 2006. Incluídos os estudantes de especialização, mestrado e doutorado, o número sobe para 124.970 matriculados em 78 instituições.
Apesar dos números, Curitiba perdeu aos poucos o título de cidade universitária, segundo o professor de Filosofia Política da UFPR, Emmanuel Appel. Vindo de Itajaí para estudar em Curitiba, ele acompanhou a realidade dos anos 60. "Antes, o título de cidade universitária a Curitiba era mais comumente utilizado. Ela é uma cidade universitária, mas, para que seja efetivamente cidade que esteja à altura desse título, tem que tomar uma série de providências para que tenhamos condições de que os estudantes, aqui chegando, encontrem estímulo para continuar na cidade", afirma.
Appel traduz o conceito de cidade universitária como um espaço que cria condições para que o debate entre estudantes e sociedade se multiplique de forma intensa. O que, segundo ele, diminuiu à medida que os intelectuais se afastaram da sociedade.
O supervisor de planejamento do Ippuc, Ricardo Bindo, explica que na década de 70, principalmente, era mais forte a dependência de todo o estado com a capital, já hoje "a universidade está no interior." Segundo a arquiteta Dora Lúcia Peixoto, coordenadora do grupo de habitação do seminário habitacional do Centro Vivo, há uma concentração de estudantes na cidade que dá a ela o caráter de universitária, só que de forma "pulverizada" pelos câmpus.
Distâncias
Os alunos dizem se deparar com um dilema: não sabem se moram perto da universidade, que geralmente é mais afastada, e ficam longe dos serviços do Centro, ou se preferem a área central e levam mais tempo para chegar à aula. Nesse ponto, os estudantes Fabean Augusto Nadolny Batista, 18 anos, e Ana Carolina Barni de Azevedo, 24 anos, escolheram opções extremas, que eles encontraram ao acaso.
Fabean, que é de Paranaguá e começou há um ano o curso de Economia na UFPR, preferiu ficar perto da faculdade. Como estuda no Jardim Botânico, decidiu morar num pensionato no Capão da Imbuia e leva 15 minutos de bicicleta para chegar à faculdade. Ele encontrou o pensionato através de uma faixa que viu na frente da universidade, quando foi fazer a matrícula. "Ele é perto da faculdade, mas longe de tudo", afirmou enquanto almoçava na última quarta-feira no Restaurante Universitário da UFPR, a um custo de R$ 1,30 a refeição.
Já Ana Carolina, que veio de Brusque (SC), mora num pensionato no bairro Seminário, que encontrou numa busca pela internet. Procurou endereços e foi telefonando aleatoriamente. Encontrou o pensionato onde está até hoje, com supermercado, restaurante e linhas de ônibus a um pulo da moradia. "Mas estou querendo me mudar porque é longe da faculdade, o Centro Politécnico. Levo quase uma hora de ônibus", afirma, acrescentando a reclamação do alto valor da tarifa, uma constante entre os estudantes.
Transporte
De acordo com a Urbs, que gerencia o transporte coletivo em Curitiba, 5,6 mil universitários recebem passe escolar, o que representa 25,2% dos 22.240 alunos beneficiados (dos ensinos fundamental, médio e superior). O órgão afirma que quem cumpre os requisitos necessários é beneficiado, como residir a mais de dez quadras da faculdade e possuir renda familiar de até cinco salários mínimos.
A pró-reitora de Assuntos Estudantis da UFPR, Rita de Cássia Lopes, explica que a universidade está estudando com a Urbs alternativas para o passe livre. Ela apresenta como alternativa o sistema de ônibus intercâmpus. "Temos ônibus da frota da universidade que percorre todos os câmpus de forma gratuita, diminuindo o tempo de deslocamento e economizando no custo da passagem", explica.
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Interatividade
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