Ainda funcionando em área provisória, o câmpus da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Jandaia do Sul já representa novas perspectivas para o desenvolvimento do município de pouco mais de 20 mil habitantes, no Norte do estado. Poder público e direção da universidade apostam em um impacto semelhante ao provocado pela instalação de polos educacionais em outras cidades paranaenses, como Palotina e Guarapuava. Os ganhos devem ir além da formação de mão de obra qualificada, alcançando também o estímulo da economia e da cultura locais.
Até o ano passado, Jan-daia do Sul tinha apenas uma única instituição de ensino superior, a Faculdade de Jandaia do Sul (Fafijan), fundada há mais de 40 anos no município. Particular, a unidade firmou uma parceria com a UFPR e hoje abriga os cursos da universidade até que as instalações definitivas fiquem prontas em terreno doado pela prefeitura. Cursos de graduação em instituições públicas só eram ofertados em Apucarana, a 20 quilômetros de distância.
O novo câmpus da UFPR deve contemplar uma área de 28 municípios pertencentes à região do Vale do Ivaí, com custo de R$ 2,6 milhões por ano.
Na primeira etapa, estão sendo ofertados os cursos de engenharias de Produção, Alimentos e Agrícola, além de licenciaturas em Ciências Exatas e Computação. "Estamos com 250 alunos e 50 professores. Com certeza, isso tudo vai se traduzir no alcance das necessidades locais", complementa o coordenador de expansão da UFPR em Jandaia, Paulo Kruger.
Projeção
O prefeito de Jandaia do Sul, Dejair Valério (PTC), destaca que foi realizada uma pesquisa, em parceria com a UFPR, para avaliar quais seriam os melhores cursos para a região, carente na área de Exatas. Ao mesmo tempo, desde que o anúncio da vinda do câmpus para a cidade foi feito, setores como o de serviços e o imobiliário começaram a se movimentar para receber estudantes e funcionários. "Se procurarmos hoje casa para alugar na cidade, vai haver dificuldade. Estamos assinando de 10 a 15 alvarás por dia para a construção de novos empreendimentos. Antes, era de oito a dez", compara.
Valério acredita ainda que, aos poucos, a renda per capita de Jandaia do Sul deverá será influenciada pelo novo câmpus da UFPR. A implantação da universidade no município já atraiu jovens de outros estados, como Bahia e Espírito Santo, e está levando a prefeitura a atualizar o plano diretor, com apoio da instituição de nível superior. "Precisamos viabilizar nosso crescimento de forma ordenada. Temos problemas com água, energia e ainda temos de implantar transporte público", pontua.
Estudantes gastam R$ 1 milhão por mês
Um exemplo de como uma universidade pode mexer com a vida de uma cidade é a instalação do campus da Universidade Federal do Paraná (UFPR) em Palotina, ainda na década de 1990. O primeiro curso oferecido foi o de Medicina Veterinária, em virtude do perfil agrário da região. Na época, foi preciso que a comunidade se mobilizasse para arrecadar fundos para a construção do prédio.
Hoje a estrutura reúne 1,5 mil alunos e oferta dez cursos de graduação. O professor Elizandro Frigo, diretor da unidade, analisa que a universidade colaborou para aumentar não só a população local, mas também a renda em circulação. "Os terrenos do entorno do campus tiveram o valor multiplicado e tivemos uma inserção de capital de mais de R$ 1 milhão por mês, com o que os alunos gastam na cidade", comenta. Ele acredita que em Jandaia do Sul deva ocorrer o mesmo. Ao final de quatro anos, diz, é provável que 8% da população local sejam estudantes da UFPR. Em Palotina, este porcentual é de 10%.
"O município ganhou mais diversidade cultural. Com a vinda de professores e técnicos administrativos [150 no total], as escolas privadas também aumentaram. Além das estaduais e municipais, são três particulares, mais cursinhos para vestibular", diz uma das primeiras funcionárias da UFPR em Palotina, a chefe de gabinete da direção Neivanir Stonchiado Pastori.
Qualificação universitária para o campo
Maria Gizele da Silva, da sucursal de Ponta Grossa
Em Laranjeiras do Sul, no Sudoeste, a primeira universidade do Brasil instalada num assentamento rural o câmpus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) funciona desde abril do ano passado. Os cursos de graduação são voltados para as demandas da área rural, com foco no conhecimento que alimenta os movimentos sociais.
O coordenador administrativo do câmpus, Fernando Zatt Schardosin, lembra que entre as cinco graduações há o curso de Licenciatura em Educação do Campo, para formar docentes para escolas rurais. Uma novidade é o curso de mestrado em Agroecologia e Desenvolvimento Regional Sustentável. "A universidade investiu R$ 30 milhões em obras e só a folha de pagamento colocou R$ 8,5 milhões na cidade entre abril e dezembro", completa o coordenador.