
São as cidades que têm o poder de mudar o mundo. E por isso elas precisam ganhar mais poder do que têm hoje. Essa é a conclusão dos especialistas que participaram da primeira mesa de debates promovida pela Conferência Internacional das Cidades Inovadoras, iniciada ontem em Curitiba. O debate, que reuniu especialistas de três países, abordou o reflorescimento das cidades e o papel delas como protagonistas das transformações globais.
Segundo o escritor e especialista em redes sociais Augusto de Franco, a tendência é que as cidades "roubem" poder dos governos nacionais. Isso acontecerá depois que elas criarem uma sociedade em rede de múltiplas comunidades. E a responsabilidade por essa revolução quase invisível, segundo ele, é a internet.
"É impossível impedir o reflorescimento das cidades, pois elas são feitas por pessoas e por comunidades que hoje, por meio das plataformas virtuais, se conectam, trocam experiências, sem a interferência do Estado", explica. "As cidades se tornarão cada vez mais independentes, serão organismos cada vez mais plurais e democráticos. Ao mesmo tempo, estarão condenadas a inovar permanentemente", completa.
Qualidade de vida
Para a norte-americana expert em urbanismo Carol Coletta, presidente da entidade CEOs For Cities rede de líderes urbanos dedicada à criação de uma nova geração de cidades , "a população em geral não está interessada em inovação. Está interessada em viver melhor. A inovação, por sua vez, está a serviço da qualidade de vida".
O objetivo da organização, criada nos Estados Unidos há pouco mais de dez anos, é guiar e motivar as cidades, através de estudos e pesquisas, a encontrar soluções criativas para os seus principais problemas. "A maior dificuldade, no entanto, é convencer não só a população, mas também os administradores, e realizar essas mudanças. Falta a eles ousadia, confiança e liderança para aceitar e entender esses novos conceitos. Geralmente, eles querem saber se outra cidade já fez algo semelhante antes e qual é a maneira mais eficiente de colocar essas ideias em prática. Infelizmente, no mundo em que vivemos, existem muito mais seguidores do que líderes".
Uma das análises lançadas pelo CEO for Cities e que já tem sido colocada em prática por algumas cidades norte-americanas, entre elas Chicago, é o Dividendos das Cidades, que estima um ganho total de US$166 bilhões por ano se todas as regiões metropolitanas dos Estados Unidos se engajarem a realizar três metas: aumentar em 1% por ano a presença de seus habitantes nas universidades; diminuir em 1% ao ano o número de pessoas na faixa de pobreza; e diminuir em uma milha (1,6 quilômetro) por dia o deslocamento de cada carro.
Exemplo
Londres, na Inglaterra, é um dos principais exemplos do movimento de reflorescimento das cidades, segundo seu vice-prefeito, Richard Barnes. "Pensou-se que Londres estaria morrendo, pois enfrentava uma grave crise econômica e, consequentemente, altos índices de desemprego e criminalidade. Hoje, contamos com uma economia maior que a de países como Irlanda e Portugal", diz.
Um dos segredos do sucesso da capital inglesa está na sua diversidade. Londres é composta por cerca de 50 comunidades étnicas diferentes e a sua população fala mais de 320 línguas diferentes. De cada 5 profissionais empregados na cidade, 2 nasceram em outros países.
O diálogo e a troca de experiências foi fundamental para incorporar realidades tão diferentes em um único lugar. Para que todos possam ser ouvidos e atendidos, a cidade é dividida em 32 distritos onde vivem cerca de 250 mil pessoas. Esses distritos contam com administrações locais responsáveis por prestar serviços à população. "O prefeito é uma espécie de embaixador", explica Barnes.



