Mercado
O varejo dos falsificados
Além das grandes apreensões de cigarros contrabandeados feitas pelas polícias, o varejo permanece de forma ativa nas cidades. Em Ponta Grossa, nas proximidades do Terminal Central de Transporte Coletivo, diversos vendedores expõem seus produtos sofrendo pouco incômodo da fiscalização.
"Quem não perdoa mesmo é a [Polícia] Federal. Quando eles aparecem a gente tem que entregar tudo, não tem jeito. Às vezes a [Polícia] Civil também faz alguma ação, mas, na maioria das vezes, a gente consegue correr", diz Dora (nome fictício), de 65 anos. Ela conta que o dinheiro conseguido com a venda dos cigarros não compensa. "Não dá nem pro lanche, a gente paga R$ 8 reais no pacote e vende cada maço por R$ 1, o que dá R$ 2 de lucro", afirma.
A menos de 10 metros da banca de Dora, improvisada na calçada, outra vendedora conta uma história diferente. "Eu consigo vender bem, me sustento só disso e ainda tenho um filho que depende de mim. Já pegaram a minha mercadoria mais de 40 vezes, mas ainda assim dá pra viver, a gente já conta com esse prejuízo", diz Maria (nome fictício), de 55 anos.
Resíduos de plástico, fragmentos de metais, algodão e restos de insetos foram encontrados em cigarros de cinco marcas que frequentemente estão entre mercadorias contrabandeadas e apreendidas pela Polícia Federal (PF) na fronteira com o Paraguai. O diagnóstico é resultado de um exame feito pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste). Para a pesquisadora responsável pelo laudo, professora Nadir Rodrigues Marcondes, doutora em Ciências Biológicas, a presença dessas substâncias em grande quantidade pode ocasionar problemas ao fumante.Ela alerta que esses elementos não têm grande potencial de ocasionar doenças por si só, mas, se eles existem na composição do cigarro, o produto foi processado em condições inadequadas de higiene, o que pode ocasionar a presença de outras substâncias não detectadas em exames macroscópicos. "Isso reflete a qualidade higiênica de produção. Os insetos podem estar na folha do fumo, os metais são adquiridos através da fricção de peças de maquinário não regulado e os fios de plástico vêm de embalagens do produto in natura", explica Nadir.
O laudo indica que cigarros da marca Classic Suave foram os que apresentaram a presença de mais produtos estranhos. Em seguida, aparece a marca Bill Lights. Também foram mencionados no estudo cigarros Bill Filter King Size, Hills e Euro Star Suave. Os testes foram feitos em 10 gramas de cada produto.
"O cigarro faz mal, independente da marca, falsificado ou não. Todos apresentam mais de 4 mil substâncias nocivas à saúde, todas altamente tóxicas. O cigarro é a segunda causa para problemas cardiovasculares, atrás apenas da hipertensão, que pode ser hereditária, e é a primeira causa evitável de doenças do coração", diz o cardiologista Carlos Alberto Machado, coordenador de ações sociais da Associação Brasileira de Cardiologia.
Na avaliação de Luciano Barros, diretor regional da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF), em Foz do Iguaçu, isso acontece porque no Paraguai, onde são fabricadas essas marcas, a legislação sanitária não é rígida como a que vigora no Brasil. "Não há controle nem rigidez, o que se busca é o baixo custo", afirma.
Fiscalização
De acordo com dados da Polícia Rodoviária Federal, o Paraná foi o recordista em apreensões de cigarros contrabandeados do Paraguai em 2010, com 1,48 milhão de pacotes confiscados (cada um com 10 maços de cigarro) o que representa 43% do total retido no país. Em segundo lugar aparecem Mato Grosso do Sul, com cerca de 930 mil pacotes apreendidos, e São Paulo, com 141 mil pacotes.
Entretanto, outro levantamento, feito pela ABCF nos dois primeiros meses deste ano, mostra que o contrabando pelo Mato Grosso do Sul já ultrapassa os números do Paraná, com 37,4% das apreensões contra 23,2%, respectivamente. Segundo Barros, isso acontece por dois motivos principais. "A ascensão do mercado de cigarros falsificados está ligada ao aumento das fábricas de cigarro no Paraguai e também à maior fiscalização realizada pelas polícias", avalia.
Outro problema, na avaliação da ABCF, é o público que o mercado de cigarros ilegais atinge. "O cigarro mais barato no Brasil custa R$ 3. Os do Paraguai custam R$ 1. Isso atinge a parcela da população que tem menor poder aquisitivo e menor acesso à saúde", diz.
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