O sonho do pedreiro Valdeci Gonçalves dos Santos, 25 anos, de acabar com o sofrimento da filha Gabriela, 7 anos, terminou anteontem de maneira trágica. Todo o empenho dele, que queria doar um rim para salvar a menina da insuficiência renal, alimentou a brutalidade da atual esposa e madrasta da criança, Andréia de Freitas, 27 anos. Motivada por ciúmes, segundo disse à polícia ao admitir ontem o crime, a empregada doméstica matou a garota com 96 facadas.

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O crime ocorreu no bairro Hugo Lange, em Curitiba, na casa em que a família morava. Andréia está presa na Delegacia de Homicídios (DH). A polícia não permitiu que a acusada, grávida de oito meses, concedesse entrevista. Ontem, a menina foi enterrada em Arapoti, na região dos Campos Gerais, onde ela nasceu.

O casal morava com a criança nos fundos de uma casa havia um ano. Gonçalves dos Santos é caseiro da residência e também trabalha numa obra, no Batel. A dona da casa estaria em São Paulo, há dois meses. Já Andréia trabalhava no Jardim Social. Ela estava sozinha com a criança na casa, por volta das 7 horas de anteontem. Gonçalves dos Santos já tinha saído para trabalhar.

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De acordo com as investigações, a mulher teve um acesso de fúria, após a criança ter derrubado uma lata de óleo no chão, enquanto brincava, e a atacou. Gabriela foi jogada com violência no chão e ficou desacordada. A polícia disse que Andréia a arrastou para um quarto e a esfaqueou. A mulher ainda teria tentado queimar o corpo da menina.

Havia sinais de queimaduras no rosto da vítima. "Em seguida, Andréia foi trabalhar e deixou o corpo no local", disse o delegado Luiz Carlos Cartaxo, titular da DH. O corpo ficou o dia todo dentro da casa, sem que nenhum vizinho percebesse.

Por volta das 18 horas, a doméstica foi à loja onde uma amiga trabalha, na rua Augusto Stresser, e contou que tinha acabado de encontrar o corpo da enteada. O delegado disse que Andréia entrou em contradição ao depor, na madrugada de ontem, e acabou confessando o crime. "Mas ela já era suspeita desde o início das investigações", completou. A polícia disse que apreendeu com a acusada a faca usada no crime e roupas sujas de sangue.

Cartaxo classificou o crime como "circunstancial". "A mulher é uma pessoal normal, mas se tornou ‘anormal’, na hora do crime", disse. Segundo o delegado, Andréia disse não gostar da enteada e reclamou que o marido só dava atenção à criança. O titular da DH disse ainda que não pedirá um atestado de sanidade mental da mulher.

Choque

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Os vizinhos do casal estão chocados com o homicídio. "Ninguém dormiu na noite após o crime", afirmou uma moradora da área. O dono da casa onde Andréia trabalha não acredita que a mulher matou a menina. "Ela trabalhava aqui há oito anos e cuidava de meus dois netos pequenos. Andréia sempre os tratou muito bem", afirmou. Já Gonçalves dos Santos está revoltado com o crime. "Nunca imaginei que minha esposa pudesse matar Gabriela", disse. Segundo ele, os dois não passavam por uma crise conjugal e a mulher nunca teve, aparentemente, problemas com a menina.