Um grupo de clientes lesados pelo encerramento das atividades da agência de turismo Interlaken, de Curitiba, se reuniu em forma de protesto na manhã desta segunda-feira (28) para discutir possíveis medidas a serem adotadas contra a empresa, que anunciou falência no último fim de semana, prejudicando viagens e hospedagens de ao menos 300 pessoas.
O encontro foi em frente à empresa, que fica no bairro Ahú, e reuniu cerca de 70 participantes. A decisão inicial é de que, ainda nesta segunda, representantes do grupo irão acionar o Ministério Público Estadual para ajuizar uma ação civil pública e também irão registrar boletins de ocorrência (BOs) na delegacia do Estelionato e na de Crimes Contra a Economia e Proteção ao Consumidor.
A operadora de turismo Interlaken, que tem três agências em Curitiba (duas delas em shoppings da capital), anunciou na manhã de sábado (26), pelo Facebook, o encerramento das suas atividades. “Após 30 anos de serviços prestados ao segmento de turismo, infelizmente encerramos as nossas atividades em função da crise econômica. Lamentamos muito o ocorrido e faremos o possível para sanar individualmente os danos causados a cada um dos clientes”, dizia o comunicado publicado na rede social.
Até o momento, o grupo reuniu provas que apontam que o valor de contratos dos clientes lesados soma R$ 528 mil. No entanto, como há novos casos de pessoas que foram prejudicadas, a estimativa é de que esse valor possa ser de até R$ 2 milhões, explicou Mariana Bogus, uma das porta-vozes do movimento. Ela e os pais viajariam para os Estados Unidos no fim de janeiro do próximo ano, mas descobriram que o valor repassado até agora à agência para cobrir as despesas do passeio não teve o destino esperado.
O protesto terminou por volta das 10 horas, pacificamente. Uma viatura da polícia ficou estacionada próximo ao local de encontro do grupo, que se dispersou após uma chuva. Nenhum representante da empresa esteve no local.
“Estamos levando o caso para as autoridades e vamos tentar, ao menos, uma orientação de como cada um deve proceder. Aqui, todos foram prejudicados, mas cada caso é um caso, tem suas particularidades que devem ser avaliadas. O que todos temos em comum é que a empresa prometeu assistência, mas, até agora, não temos nenhuma resposta satisfatória”, declarou Mariana.
Cobranças extras
Em entrevista à imprensa nesta manhã, clientes que participaram do protesto apontaram ainda outros problemas em relação à agência. Um deles seria cobranças extras, não autorizadas, que estavam sendo feitas nos cartões de créditos dos consumidores dos serviços oferecidos pela empresa. Segundo relatos, ao menos dez pessoas já teriam reclamado de valores creditados acima do estipulado em contrato.
“A gente tem medo do que ainda pode aparecer. Pelas informações que estão chegando, falta de pagamento e emissão dos boletos, de acordo com o combinado com os clientes, é apenas um dos problemas”, disse a advogada. Ela informou também que algumas pessoas lesadas tiveram o CPF utilizado para negócios próprios da agência.
Advogado criminalista, Paulo Roberto Nascimento – que ainda decide se arca ou não com despesas extras para poder manter a viagem com a namorada programada para esta terça-feira (29) – explicou que a intenção é denunciar os proprietários da agência por fraude contra o consumidor e estelionato, uma vez que a empresa vem informando aos clientes que não há como ressarci-los dos prejuízos.
“Não é simples, não há como uma empresa decretar falência no final da noite de Natal. Isso tudo é um processo demorado. Eles agiram de má fé e vinham planejando isso há tempos. E acharam a melhor época para fazer”, argumentou Nascimento.
Ele e a namorada, Isabel Telis, de 28 anos, investiram R$ 9,4 mil em um pacote de cinco dias em Pernambuco. As passagens, a princípio confirmadas, estão marcadas para esta terça, mas o casal ainda decide se irá ou não desembolsar mais dinheiro para pagar a hospedagem – que foi cancelada pela Interlaken um dia depois de a reserva ter sido feita.
“A gente até deveria desconfiar, porque os preços deles eram sempre muito bons. Era de se espantar”, comentou Isabel. Em novembro, ela viajou com a mãe para Manaus, com passagens compradas pela Interlaken, mas não teve problemas. “Talvez porque foram mesmo só as passagens”, concluiu.
Outro lado
Procurado para comentar os fatos e as novas denúncias, o diretor comercial da agência não atendeu às ligações feitas pela reportagem. Uma das funcionárias do local disse que apenas o advogado da empresa está comentando o caso, mas ele também não atendeu aos telefonemas. A Interlaken funcionava em Curitiba havia cerca de 30 anos.