O clima é de tranquilidade na manhã desta segunda-feira (7) nas nove favelas do Estácio, Catumbi e Santa Teresa ocupadas pelas Forças de Segurança, no Centro do Rio. Durante a madrugada, não houve registro de confrontos nos locais.
A megaoperação começou por volta das 4h de domingo (6). A primeira parte da ação contou com agentes da Polícia Civil cercando 48 pontos dessas comunidades e, às 6h, homens, em sua maioria da Polícia Militar, começaram a entrar nos morros São Carlos, Zinco, Querosene, Mineira, Coroa, Fallet, Fogueteiro, Escondidinho e Prazeres.
Menos de duas horas depois do início da entrada de policiais, a Polícia Militar anunciou que os nove morros da região já tinham sido completamente ocupados. O comércio na área funcionou normalmente e nenhum tiro foi disparado.
Polícia encontra casa de luxo
Durante a megaoperação, uma casa de luxo localizada no Morro de São Carlos chamou a atenção de agentes da Poícia Militar. Com três andares, a construção tem piscina, churrasqueira, banheira de hidromassagem, cozinha planejada, eletrodomésticos novos e acabamento de primeira qualidade. A polícia suspeita de que a casa pertencia a um dos chefes do tráfico.
Enfermaria irregular
A polícia também descobriu uma enfermaria irregular que funcionava no Centro Comunitário do Chuveirinho, no Morro da Mineira, no Catumbi, e seria usada por traficantes. No prédio, na localidade conhecida como Beco do Chuveirinho, uma sala de aula era usada como ambulatório, onde policiais do 41º BPM (Irajá) encontraram instrumentos cirúrgicos, medicamentos e material de primeiros socorros.
Também foi achado um caderno com toda a movimentação do falso ambulatório, receituários e atestados médicos.
Falso médico
De acordo com o coronel PM Aristeu Leonardo, no local policiais também encontraram um alemão, usando jaleco de médico. Segundo ele contou à polícia, ele é paramédico e não teria concluído os estudos de medicina em seu país. O falso médico será entregue à Polícia Federal, já que está com o visto de turista vencido desde 2007. Ele poderá permanecer preso ou ser deportado do país.
"A situação dele é toda irregular. Ele não poderia estar clinicando, porque não é médico, e nem trabalhando no país, porque seria turista. Ele contou que é filho de um químico. Agora, vamos investigar se o lugar era usado como enfermaria para cuidar de traficantes feridos ou se ele prestava atendimento médico à comunidade. De qualquer forma, tudo seria ilegal", enfatizou o coronel.
A polícia ainda não sabe há quanto tempo o local abrigava a enfermaria. Uma outra sala de aula, segundo a polícia, aparentemente era usada como moradia pelo alemão. Lá havia roupas, sapatos, pastas.
Sem fugas
A Polícia Civil do Rio monitorou possíveis rotas de fuga de criminosos. Segundo o chefe do Departamento de Polícia Especializada, Ronaldo Oliveira, comunidades como a Rocinha, na Zona Sul, Pedreira e Costa Barros, no subúrbio da capital, fizeram parte do monitoramento policial, mas não houve registros de fuga para essas áreas.
"Os delegados das especializadas ficaram mobilizados para esse acompanhamento. Desde as 4h30 da manhã acompanhamos as possíveis rotas e nada foi registrado. Se alguma fuga fosse percebida, tínhamos 250 homens prontos para invadir outras comunidades em busca dos criminosos", afirmou Oliveira.
Segundo o delegado, sem registros de criminosos nessas áreas, a estrutura criada na na sede da Polícia Civil, no Centro, foi desmontada no final da manhã.
Monitoramento por satélite e helicópteroO monitoramento aconteceu através de sinais de satélite, da circulação do helicóptero e de patrulhas. "Agora vamos continuar investigando. O importante é tirar esses criminosos do lugar onde vivem, pois isso enfraquece muito eles", acrescentou Oliveira.
A Secretaria pretende instalar três novas Unidades de Polícia Pacificadora (UPP) que vão beneficiar 17 bairros do entorno, com uma população de cerca de 520 mil pessoas.
De acordo com a PM, a previsão é que, na segunda-feira (7), o reforço da Marinha seja retirado e 400 homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), Batalhão de Choque e Batalhão Florestal, da Polícia Militar, permaneçam nas favelas ocupadas.
Aviso de operaçao foi para evitar mortes inocentes, diz Beltrame
"Prefiro que os traficantes saiam (das comunidades) a entrar à custa da vida de um inocente", disse o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, para justificar o fato de a megaoperação de ocupação ter sido amplamente divulgada com quase uma semana de antecedência. Segundo Beltrame, essa foi a estratégia decidida pelo governador.
"O objetivo é ocupar territórios sem aumentar as estatísticas de bala perdida, de auto de resistência, de homicídio e de ferimentos a qualquer civil", enfatizou Beltrame, em entrevista coletiva depois do término da ocupação.
Modelo de operação pode ser levados para outros estados
Em entrevista coletiva no Centro de Controle de Operações montado no Batalhão de Choque, no Centro, Beltrame disse que as chuvas que assolaram a Região Serrana do Rio no início de janeiro atrasaram a megaoperação. Segundo ele, com todo os batalhões da Polícia Militar e delegacias especializadas da Polícia Civil nas áreas afetadas, só agora foi possível cumprir o plano de ocupação de nove favelas.
Para o secretário, a operação, que reuniu várias forças estaduais e federais, a exemplo do que aconteceu no Alemão, em novembro, pode servir de modelo para outros estados do país. "Daqui podemos levar essas ações para outros estados e, quem sabe, diminuir o índice de criminalidade, que não é só o carioca que quer, é todo o Brasil que quer", afirmou.
Beltrame lembrou ainda que esta foi uma operação que exigiu um minucioso planejamento, já que as comunidades ocupadas estão na região do Centro do Rio, "uma área historicamente difícil e complicada para a polícia trabalhar" e que tem ligação direta com a Zona Sul do Rio.
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