Repercussão
Não há dúvida sobre o relatório, diz climatologista suíço
Os "negacionistas" cientistas que negam o aquecimento continuam a usar os dados para atacar o IPCC em países como Austrália, Canadá, Reino Unido e Estados Unidos. Ao jornal Los Angeles Times, a climatologista Judith Curry, diretora da Escola de Ciências da Terra e da Atmosfera do Instituto de Tecnologia da Geórgia e até 2001 membro do IPCC, afirmou que o "hiato" seria "a variação natural do clima dominando sobre o impacto humano". O discurso foi refutado com veemência ontem em Estocolmo. Logo na abertura do evento, o coordenador do IPCC, Rajendra Pachauri, foi taxativo: "As provas científicas das mudanças climáticas se reforçam ano após ano, deixando poucas incertezas, além de graves consequências".
Para Thomas Stocker, físico e climatologista suíço e um dos coordenadores do relatório, não há dúvidas sobre a honestidade e a imparcialidade do IPCC. "Ele se baseia em milhões de medidas atmosféricas que permitem ter uma visão sem precedentes e imparcial sobre o estado do sistema climático".
Pesquisas indicam que 97% dos cientistas que estudam mudanças climáticas no mundo estão convencidos da responsabilidade do homem no aquecimento global. Mas foram os 3% de céticos que pautaram o primeiro dia de debates da sexta edição do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), aberto ontem em Estocolmo, na Suécia. Mais uma vez encurralados por críticas, os experts tiveram de explicar que a redução do ritmo de aquecimento da Terra entre 1998 e 2010 não altera a certeza de que as mudanças climáticas são causadas pelas emissões de gases de efeito estufa.
O chamado "hiato" da curva de aumento da temperatura foi diagnosticado pelos próprios cientistas do Grupo Intergovernamental de Experts sobre a Evolução do Clima (GIEC), que integram o IPCC. Foram eles que incluíram a informação no documento em discussão entre experts e delegados de 195 países em Estocolmo. "A média global de temperatura, combinadas as superfícies de terra e oceano, indicam um aumento de 0,89ºC no período de 1901-2012. Neste período, quase todo o globo tem experimentado o aquecimento da superfície", diz o rascunho do relatório, ao qual a reportagem teve acesso.
Na sequência, o documento faz uma ponderação: "Tendências de temperatura média da superfície global apresentam variação substancial a cada década, a despeito do robusto aquecimento desde 1901". A seguir, vem a razão das críticas dos cientistas "climacéticos": "A taxa de aquecimento nos últimos 5 anos (1998-2012, de 0,05ºC por década) é menor do que a tendência desde 1951 (1951-2012, de 0,12ºC por década)".
Um segundo ponto de críticas está no fato de que o IPCC reviu para baixo a estimativa mínima de aquecimento da Terra até 2100. No trecho em que quantifica as respostas dos sistemas climáticos às emissões de gases de efeito estufa, os experts afirmam ser "alto grau de certeza" que a temperatura da Terra subirá entre 1,5ºC e 4,5ºC até 2100. Esse patamar "de base" de 1,5ºC o GIEC considera muito improvável que a temperatura suba menos de 1ºC é inferior ao estimado há seis anos, quando do relatório anterior do painel. Então a estimativa era de 2ºC. "O limite inferior do intervalo de probabilidade avaliado é assim menor, o que reflete a evidência de novos estudos de variação de temperatura observadas utilizando os registros estendidos na atmosfera e oceano", explica o documento.
O debate deve prosseguir até a quinta-feira, data na qual é prevista a divulgação do texto final do primeiro relatório do IPCC em 2013.
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