Os 75 bairros de Curitiba têm situações sociais e econômicas distintas, mas um ponto os aproxima: mulheres organizadas e interessadas em promover mudanças que extrapolam os limites geográficos dos locais em que moram. Se antes era comum ver os Clubes de Mães em bairros de organização social baixa e taxas de violência alta, atuando principalmente com foco na mulher, hoje eles se espalham por toda a cidade e oferecem vários tipos de atividades.
Um endereço na Rua Jacarezinho é parada certa para quem precisa de ajuda. A casa de Fátima Martins dos Santos é também a sede do Clube de Mães das Mercês, comandado por ela desde a sua fundação, em 1997. No dia em que a reportagem esteve na casa de Fátima, já cedo havia uma pessoa pedindo ajuda: queria algo para comer. "Não tem como negar um prato de comida ou um litro de leite. Se eu tenho, eu dou", afirma. Ela gosta mesmo é de ajudar os outros. "Isso vem desde criança, acho que é um dom de Deus".
O seu trabalho em prol dos menos favorecidos, que vêm de todos os lados, é variado: desde doações de comida e roupas, encaminhamentos para tratamentos de saúde e, principalmente, qualificação para o mercado de trabalho. "Isso ajuda a sociedade a crescer: instruir as pessoas, para elas trabalharem e ganharem seus frutos", diz.
Motivação
Foi a vontade de ver uma transformação acontecer em seu bairro que motivou Irenilda Arruda a criar um clube de mães. Moradora da Vila das Torres desde a infância, em 1997 ela tomou a iniciativa e montou o Clube de Mães União Vila das Torres. "Eu cresci dentro da vila e percebia que, se não fosse investido um pouco mais no social, a vila poderia tomar um rumo pior. Pensei que seria uma coisa pequena, mas foi um despertar para que outras pessoas se preocupassem e tomassem partido", conta.
O plano em se tornar uma referência para a comunidade deu certo: hoje o clube promove cursos, montou uma biblioteca e tem até uma rádio web. "Mostramos que nunca é tarde para mudar. O clube ensinou muita gente a escrever, voltar para a escola. Isso tudo é fantástico", resume.
No Alto da XV, a vontade de ajudar os outros também move as mulheres que fazem parte daquele clube de mães. Quando surgiu, há mais de 40 anos, o objetivo era ensinar mulheres a fazerem os enxovais dos filhos. Hoje, o grupo promove bazares, eventos de artesanato e cuida da formação de cem crianças de 2 a 5 anos, da Casa da Criança Francisco de Assis.
Fátima Vieira Nogueira começou a colaborar em 2009 e intensificou a ajuda em 2010, depois de enfrentar um período de doença. O trabalho voluntário, além de ajudar os que precisam, também a transformou em uma pessoa melhor. Hoje, ela é a diretora de promoção social do clube e trabalha com a integração da equipe de voluntárias e na realização de eventos para arrecadar fundos, como os dois bazares anuais realizados pelo grupo.
Bordados e desabafos em Telêmaco Borba
Henry Milleo/Gazeta do PovoA norte-americana Rosa Martin ajudou na criação de 34 clubes de mães na cidade
Maria Gizele da Silva, da sucursal
Uma vez por semana, centenas de mulheres de Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, mudam sua rotina para passar três horas nos encontros dos clubes de mães da cidade. Elas aprendem ou aperfeiçoam algum ofício, que vai do bordado à confecção de tapetes. De quebra, ainda podem desabafar seus problemas.
A irmã Rosa Martin, religiosa norte-americana que vive em Telêmaco desde os anos 70, ajudou na criação de boa parte dos 34 clubes de mães da cidade. As reuniões acontecem em centros comunitários e salões paroquiais. A prefeitura fornece materiais para a produção artesanal das mães, além de pão e leite para o lanche. De cada quatro peças produzidas, uma é destinada aos programas sociais da prefeitura e o restante fica com as participantes, que podem vender os produtos.
Tudo é compartilhado: Irmã Rosa lembra que quem não sabe aprende com quem já domina as técnicas. "Cada uma faz conforme o seu dom", explica a religiosa. São feitos bordados, tapetes, cortinas, mochilas, acolchoados com roupas usadas, crochê e tricô. "Mas o principal é a partilha de informações, de novidades e de problemas também", acrescenta.Violência
Telêmaco Borba tem 69,8 mil habitantes (segundo o Censo de 2010) e cresceu a partir da cadeia produtiva da madeira por sediar uma unidade da Klabin, a maior fabricante de papéis do país. O inchaço da cidade também refletiu nos índices de violência. Segundo o Mapa da Violência 2012, divulgado pelo Instituto Sangari, Telêmaco Borba ocupa a quarta posição do Paraná e a 44.ª do Brasil em homicídios contra mulheres. Em 2010, ano que serviu de base ao estudo, quatro mulheres foram assassinadas na cidade.
Conforme irmã Rosa, os encontros nos clubes de mães são um esteio para as mães que precisam de orientação contra a violência doméstica. Os encontros também abrem horizontes. "Os maridos não deixam as mulheres saírem sozinhas de casa, mas aqui elas vêm e a gente aproveita", completa.
Elenir de Fátima Batista, que é voluntária de um clube de mães há 22 anos, diz que já ouviu muitas histórias de violência, mas que sente prazer em ajudar as companheiras de clube. "Se entre 50 mulheres conseguirmos ajudar três, a gente já fica feliz", conta.