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Flagrante de tráfico às margens do Rio Paraná: traficantes usam portos clandestinos para entrar com a droga no Brasil | Christian Rizzi/Gazeta do Povo
Flagrante de tráfico às margens do Rio Paraná: traficantes usam portos clandestinos para entrar com a droga no Brasil| Foto: Christian Rizzi/Gazeta do Povo

Guaíra concentra 72% das apreensões

O reforço na fiscalização da fronteira do Paraná com o Paraguai foi um diferencial neste ano no combate ao crime organizado na região de Guaíra. Apesar de a polícia não dispor de números oficiais, há estimativas indicando que a cidade responde por 72% da droga apreendida no Paraná, por 46% da Região Sul e 22% de todo o país. Desde julho deste ano, a região conta com a Força Alfa, Companhia Independente de Fronteira criada pelo governo do estado para patrulhar os 170 quilômetros de extensão do Lago de Itaipu entre Foz do Iguaçu e Guaíra. São 80 policiais que atuam em operações em parceria com a Polícia Federal (PF).

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Consumo de crack estimula produção

O crescimento no consumo do crack é uma das explicações para a queda nas apreensões de maconha. O delegado da Polícia Federal e secretário municipal Antidrogas de Curitiba, Fernando Francischini, diz que os traficantes estão deixando de vender maconha porque a dependência química causada pela droga não é tão profunda quanto a do crack. "O traficante prefere um produto que venda muito. E qual ele consegue trocar por uma esmola e pequeno furto? É o crack, que vale de R$ 3 e R$ 4 a pedra", diz.

A busca pelo crack também explica em parte o interesse dos traficantes e quadrilhas pela coca. Além de a lucratividade ser maior se comparada à da maconha, as quadrilhas usam a pasta da cocaí­na, inclusive em território brasileiro, para fabricação do crack. O consumo da cocaína em pó, segundo a polícia, é elitizado, enquanto o crack é a droga da periferia e de camadas mais pobres.

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O incremento no cultivo da co­­caína na Bolívia e no Peru começa a mudar o mapa do narcotráfico no Paraná. O estado deve fechar o ano com aumento nas apreensões de cocaína e queda nas de maconha, droga que tradicionalmente domina o tráfico nas rodovias paranaenses. As estatísticas do 181 Nar­code­­núncia, serviço do governo estadual que integra as polícias Mili­­tar, Civil, Federal e Rodo­viária Federal no combate ao tráfico de drogas, indicam que neste ano, até o início de dezembro, foram tiradas de circulação quase 4 toneladas da droga, contra 469 quilos em 2008 – um au­­mento de quase 10 vezes. Já a quan­­tia de maconha interceptada caiu pela metade, de 83 toneladas em 2008 para cerca de 40 neste ano. Pelo menos 70% das apreensões de droga no estado começam pelas denúncias feitas ao 181.

O aumento na quantidade de cocaína apreendida se deve a uma mega apreensão de mais de 3 toneladas da droga, em fevereiro deste ano, no Porto de Paranaguá, pela Polícia Federal (PF) e pela Receita Federal (RF), a maior da história do Paraná, como observa o coordenador do 181 Narcodenúncia, o tenente da Polícia Militar Edivan Fragoso. A PF diz que a apreensão em Paranaguá não foi um caso isolado: o tráfico de cocaína está em alta e a fronteira é apontada como principal ponto de entrada da droga. Durante todo o ano foram interceptadas quantidades expressivas de cocaína na fronteira, na altura de Foz do Iguaçu e Guaíra.

Para a PF, o aumento nas apreensões tem relação com o incremento das plantações de coca, especialmente na Bolívia, como mostrou o Relatório Mundial sobre Drogas, divulgado em junho deste ano pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes. O documento indica que a produção global de cocaína, estimada em 845 toneladas, é a mais baixa em cinco anos, mas foi constatado crescimento de plantações na Bolívia e no Peru. Na Bolívia, há inclusive agricultores abandonando outras culturas para plantar coca e também se observa uma maior tolerância do atual governo quanto ao plantio. Na Colômbia, país responsável pela metade da produção da cocaína no mundo, houve redução de 18% no cultivo e de 28% na produção da droga em relação a 2007.

Paraguai

Outra explicação é a migração da rota para o Paraguai. O delegado da PF e secretário An­­tidrogas de Curitiba, Fer­nando Francis­­chini, diz que o tráfico da cocaína começou a ocupar o Paraguai nos últimos anos. "O Paraguai hoje tem grandes bases de cocaína, que passa por dentro do Brasil como corredor ou vai para os grandes centros como Curitiba e São Paulo. Por isso a droga passa por Foz", diz. Segundo Francischini, os traficantes começaram a se instalar no Paraguai porque perderam espaço nos estados do Ama­zonas, Rondônia e Acre após a instalação do Sistema de Vigi­lância da Amazônia (Sivam) e a aplicação da Lei do Abate, regulamentada em 2004. A Lei do Abate autoriza a derrubada de aviões suspeitos que entram no território brasileiro.

Em Foz do Iguaçu, o Aero­porto Internacional passou a ser rota certeira da coca no ano passado, segundo o delegado-chefe da PF José Alberto Iegas. São frequentes as apreensões em fundo falso de malas e com "mulas" que engolem cápsulas. Somente neste ano a PF flagrou 15 pessoas com cápsulas no estômago; no ano passado, foi apenas uma. Apesar dos constantes flagrantes, os traficantes insistem nas tentativas de entrar com a droga no país por causa da facilidade de cooptar pessoas no lado paraguaio – para fazer o transporte em malas ou no próprio corpo. "Há uma mão de obra farta", diz Iegas. A cocaína que entra via Foz vai até São Paulo ou Rio e de­­­pois é levada para países europeus. Iegas diz que neste ano as apreensões de maconha também caíram em Foz, enquanto as de cocaína cresceram.

Antes de chegar ao aeroporto de Foz, a droga passa por portos clandestinos no Rio Paraná e no Lago de Itaipu. No Rio Paraná, na região da Ponte da Amizade, que liga Foz do Iguaçu a Ciudad Del Este, o crime organizado age dia e noite com olheiros e barcos. Com efetivos insuficientes, a PF e as demais corporações policiais não conseguem controlar toda a extensão do Rio Paraná e do Lago de Itaipu, que conta com polícia marítima apenas em Foz e Guaíra. As quadrilhas também usam aviões, caminhões e contêi­neres.

Segundo a PF, a apreensão de cocaína tem aumentado em todo o país, principalmente no Paraná e no Mato Grosso do Sul. Boa parte da cocaína que chega do Paraguai e entra no Brasil pela fronteira é produzida na Bolívia.

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