Alunos do ensino fundamental da rede estadual da Ilha do Amparo, localizada na baía de Paranaguá, no Litoral, estudam atualmente em uma cozinha comunitária porque a unidade oficial, anunciada ainda em 2012, nunca saiu do papel. O local onde funcionaria a Escola Estadual Antônio Paulo Lopes é um campo de futebol e não há nenhum sinal de início de obras.
O que diz a Seed
O núcleo da Secretária Estadual de Educação de Paranaguá informou que já existe protocolo para construção da escola na Ilha do Amparo, mas não informou se há expectativa para o início das obras. “Para atender a demanda de jovens com mais de 15 anos que não concluíram o ensino fundamental foi implantada a modalidade Educação de Jovens e Adultos. Para a abertura de turmas para o ensino médio é necessário ter número suficiente de matrículas”, informou o núcleo. Quanto ao transporte dos servidores estaduais, a secretaria informou que estes recebem vale transporte para seu deslocamento.
Os 16 técnicos e educadores contratados para atender a comunidade reclamam da falta de infraestrutura para trabalhar. Como o espaço é apenas coberto, mas não têm paredes, os alunos ficam expostos, muitas vezes, ao frio e à chuva. Também não há banheiros para meninos e meninas. Há apenas um sanitário em condições de uso na cozinha comunitária. “O local traz dificuldades para que os alunos encontrem sua identidade no espaço educacional. Por eles não viverem esse ambiente, eles não tem o sentimento de pertencer a uma escola”, conta a professora Adriana Adriano.
Os pais dos alunos, em sua maioria pescadores, chegaram a proibir a entrada dos professores na comunidade na semana passada. O objetivo era cobrar uma resposta do governo do estado sobre as condições precárias do local.
Sem escola
As comunidades de pescadores da Ilha do Teixeira, Eufrasina, Europinha, Ponta de Ubá e Medeiros não contam com escolas estaduais. Quem quer estudar precisa se dirigir as ilhas de São Miguel e Piaçaguera.
Caso não haja uma resposta concreta sobre a construção da escola, os moradores disseram que vão impedir a continuidade das aulas neste ano letivo. Os pais também se queixam da falta de oferta de ensino médio na comunidade. A Ilha do Amparo tem hoje pouco mais de 800 habitantes e pelo menos 40 já estão aptos para cursar o ensino médio, mas estão sem estudar.
O presidente da associação dos moradores da ilha, Osmail Pereira do Rosário, conhecido como “Maíco”, diz que estudou apenas até a 4.ª série por falta de estrutura e quer mudar essa realidade para os mais jovens. “Nós queremos um futuro melhor para as nossas crianças. Os acidentes ambientais e as constantes dragagens tem acabado com o pescado. Nossa esperança é de que as crianças estudem”, diz Osmail.
Ilha da Cotinga
Em outra ilha do Litoral a situação é semelhante. Os indígenas do povo mbyá guarani podem estudar apenas até o 5º ano na Ilha da Cotinga. A construção de uma nova unidade prevista para outras séries e que deveria ter sido entregue em 2014 está parada. A Seed informou que a empresa responsável pela construção entrou em falência e uma nova licitação deve ser feita para a conclusão da obra.
Riscos
A briga por uma escola da rede estadual começou há cerca de 20 anos, estima o presidente da associação de moradores. “Primeiro eles [o governo] alegavam que não tinham um terreno, então a comunidade doou o campo de futebol. O IAP [Instituto Ambiental do Paraná] fez a vistoria e disse que podia construir, mas nada saiu do papel”, lamenta.
Cansados de ver os filhos em espaços improvisados, os pais enviaram uma solicitação ao Núcleo Regional de Educação (NRE) pedindo a doação de madeira para que eles mesmos pudessem construir a escola, mas, segundo a associação de moradores, também não receberam retorno.
Apesar da falta de estrutura, a evasão escolar e reprovação de alunos na Ilha do Amparo são baixas. Dos 43 matriculados, 42 frequentam as aulas.
Professores também enfrentam problemas com transporte
Para dar aulas na escola improvisada na cozinha comunitária da Ilha do Amparo e nas salas emprestadas pela escola municipal, os professores passam por algumas dificuldades. Moradores de Paranaguá, eles negociam com barqueiros o transporte até a ilha. As pequenas embarcações a motor, conhecidas como “bateiras”, dividem espaço com o movimento dos grandes navios que rumam ao porto de Paranaguá, por quase uma hora, tempo de deslocamento entre a cidade e a ilha.
Os professores, que preferiram não se identificar, afirmam que o custeio do transporte sai todo do bolso deles, sem qualquer incentivo do governo.
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