Gerações de professores e alunos do Santa Maria: nove décadas de ensino.| Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo

Até hoje, quem passa pela Mateus Leme esquina com João Gava se impressiona com a imponência daquela construção ali no alto da colina. Quando o Colégio Santa Maria se mudou para lá, nos anos 1980, muitos pais chegavam “impressionados com a infraestrutura”. Mal sabiam que, ali, a preocupação era “com a qualidade humana”, e não com pedras e blocos de concreto.

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Reza a lenda – quem conta é Rubens Matsuda, de Matemática – que a história é verídica, e ocorreu uma porção de vezes. A “filosofia humanista” por trás dessa história é o segredo para a longevidade do colégio, que chega aos 90 anos, em 2015.

A estrela da comemoração dos 90 anos é a página de Facebook que congrega memórias coletadas pela instituição e enviadas por ex-alunos. “É comemorar a história viva. Os atuais alunos valorizam muito isso, o que o colégio representa para a comunidade”, diz o atual diretor, Everson Caleff Ramos.

Encontrar quem representasse o lema “ex-aluno sim, ex-Santa Maria nunca” não foi difícil. Muitas famílias estão lá há gerações. É o caso dos Fruet; estudaram lá Gustavo, o pai Maurício e o avô Constante Eugênio. Polido, o atual prefeito disse à reportagem que considera “uma honra para Curitiba ter uma instituição deste porte, desta tradição, desta natureza e com estes valores”.

O professor Hamilton Curi, de Física, morre de orgulho dos ex-alunos de sucesso. “Onde chego tenho ex-alunos. E todos me querem bem. Os três irmãos Gasparin, todos fizeram Medicina. Hoje são meus médicos e foram meus alunos. O Emílio Suzuki, meu ofaltmologista: ex-aluno”.

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Entre os antigos estudantes, há os que, como bons filhos, “à casa tornam”. É o caso de Josiane Grillo que está lá desde 1980, quando tinha 10 anos. Ela entrou na primeira turma de magistério (“porque o [então diretor] irmão Celedônio queria que a gente saísse de lá dando aula”), em 1984, e começou a lecionar para a 1ª a 4ª séries. Formada em Letras, pulou para as aulas de 5.ª a 8.ª séries. “Meus professores viraram colegas, os filhos deles meus alunos e, hoje, meus filhos são alunos deles”.

Trajetória

Fundado há dois séculos na França, pelo padre Marcelino Champagnat, o Instituto Marista chegou ao Brasil em fins do século 19. Em Curitiba, o Instituto Santa Maria começou com 46 alunos e três professores, em 15 de janeiro de 1925. Na década seguinte seria criada a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, anexa ao colégio (que, mais tarde, viria a compor a PUCPR).

Meio século depois, em 1978, o colégio passou a aceitar meninas. Em 1984, outro marco: o abandono da antiga sede, na Rua XV, e a instalação no São Lourenço.

Quem lembra bem essa fase de construção é Sebastião Geraldo de Oliveira, o “Tião”. Em quase quatro décadas, ele ajudou a “cortar mato” e erguer a pré-escola, primeiro, e o colégio, depois. Hoje continua lá, e diz que não vive sem o carinho das crianças. Brinca que elas aprontam e imploram: “não conta para ninguém, Tião”. Educador, ele responde: “não conto, mas não faça isso de novo”.

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“Se eu ficar longe das crianças, já sinto falta. Eles aprontam e dizem ‘não conta, Tião’, eu respondo ‘não conto, mas não faça isso de novo!”, Sebastião Geraldo de Oliveiro, o “Tião” ,  auxiliar de serviços gerais.
“Meu irmão mais velho chegou com a notícia de que a primeira aluna ia receber bolsa. Minha mãe só fechou a porta do carro e saiu correndo. Cinco minutos depois, chegou a segunda aluna” - Jamile Zanardini primeira mulher matriculada na escola.
“Desde 1950, não tem uma pessoa da minha família que não tenha estudado aqui. Quando vim fazer o concurso, com certeza a formação humanista que tive aqui contou” - Andréa Cristina Kowalski ex-aluna e atual professora de Inglês
“Se me perguntarem qual o ponto mais alto do Santa Maria, vou dizer que é este carinho das famílias, dos alunos. Isso não tem valor que pague. Com os professores, quando a gente se reencontra, você sente que não foi só um instrumento de trabalho” - Rubens Matsuda ex-professor de Matemática.
“Eu conversava com todo mundo, os alunos os professores. Nossa, como eles eram bons para a gente. Um formou-se cirurgião plástico e até queria fazer uma plástica em mim” - Rosa Pereira Pacífico Prochnow ex-diretora de funcionários do colégio