O deslocamento de ônibus em Curitiba e região metropolitana tem se tornado mais perigoso nos últimos cinco anos. Entre 2007 e 2011, o número de colisões de trânsito envolvendo veículos do transporte coletivo praticamente dobrou, passando de 1.553 para 3.012. No mesmo período, a frota operante ganhou apenas 45 ônibus (2.240 veículos para 2.285) e a média de quilometragem rodada por dia útil passou de 572 mil para 578 mil.
Os dados foram obtidos pela Gazeta do Povo por meio da Lei de Acesso à Informação na Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), responsável pela operação da Rede Integrada de Transporte (RIT) na capital e em mais 20 municípios da região.
O levantamento mostra ainda que, antes do crescimento, a quantidade de acidentes no transporte coletivo se manteve estável durante 17 anos. Em 1989 foram registradas 1.092 colisões com coletivos, ante 1.373 ocorrências dessa natureza em 2006.
De acordo com a Urbs, a nomenclatura "colisão" envolve desde acidentes envolvendo outros veículos até ocorrências leves, como riscos na lataria causados em manobras. "Nesse período, iniciamos um controle mais efetivo e por isso houve aumento. Registramos qualquer arranhão no ônibus como acidente, já que o veículo precisa ser recolhido para reparos", explica Marcos Isfer, presidente da Urbs.
A empresa, porém, não soube informar quantos dos 3 mil casos se referem a acidentes mais leves, mas divulgou dados do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar (BPTran) que contabilizam 792 acidentes com ônibus em todos os municípios da RIT em 2011. Esses números se referem tanto a coletivos do transporte público quanto de particulares.
Já estatísticas do Corpo de Bombeiros indicam a gravidade dos acidentes envolvendo esses veículos. Em 2011, 418 pessoas ficaram feridas em 325 ocorrências com ônibus públicos e privados em Curitiba.
Pressão
Para Lafaiete Santos Neves, doutor em Desenvolvimento Econômico pela FAE e autor do livro Movimento Popular e Transporte Coletivo em Curitiba, uma das causas do aumento de colisões pode ser a pressão pelo cumprimento de horários. "Existe uma pressão de metas de horários e os condutores são multados se não cumprirem. A insanidade de manter essa repressão promove acidentes de toda a ordem", afirma.
A opinião do especialista foi corroborada por motoristas ouvidos pela Gazeta do Povo. Um deles contou, inclusive, que recebeu sanções por correr demais. "Perdi as contas de quantas advertências recebi. Mas tenho de acelerar, caso contrário não cumpro o horário e perco o emprego, como já aconteceu com alguns colegas", reclamou um condutor da linha Barreirinha/São José dos Pinhais, que pediu anonimato por temer represálias.
Vágner, que teve o sobrenome preservado pela reportagem, também culpa as metas pelos acidentes. "Quando extrapolamos a meta [de horário], não recebemos pelo tempo adicional do percurso. Corremos para não trabalharmos de graça", diz o motorista, de 37 anos.
Além das colisões, há mais de uma centena de casos de atropelamentos todo ano. Segundo a Urbs, ocorreram 616 registros dessa natureza entre 2007 e 2011. No período, levando em consideração apenas os atropelamentos das canaletas expressas de Curitiba, 212 pessoas ficaram feridas e nove morreram.
Após criação de seguro, quedas crescem 56%
As ocorrências de quedas, torções e pessoas prensadas em portas dos coletivos de Curitiba e região cresceram 56% entre 2010 e 2011. De acordo com dados da Urbanização de Curitiba S/A (Urbs), há dois anos foram registrados 349 casos, ante 543 no ano passado. Uma das explicações para a alta pode estar relacionada ao Segbus, um seguro destinado a cobrir despesas médicas e indenizações de passageiros em caso de acidentes dentro de ônibus públicos, implantado em novembro de 2010.
Apesar da coincidência, Ricardo Bertin, mestre em Transportes e professor da PUCPR, vê com desconfiança essa relação. "Pode ser que houvesse subnotificação dos casos, mas acredito que esse crescimento esteja ligado mais ao aumento no número de acidentes."
Anderson Teixeira, presidente do Sindicato dos Motoristas e Cobradores de Ônibus de Curitiba e Região (Sindimoc), cita um caso curioso para explicar o aumento das quedas de passageiros. "Logo que o seguro foi criado, quando eu ainda dirigia, flagrei um advogado entregando cartões aos passageiros com o objetivo de divulgar o seguro e promover o trabalho dele."
Cobertura
O Segbus oferece cobertura de despesas hospitalares, odontológicas e com medicação, no valor de até R$ 3 mil, e indenização por invalidez ou morte. São atendidos usuários da Rede Integrada de Transporte que sofrem acidente em ônibus, terminais fechados e estações-tubo.
Para acionar o Segbus, basta ligar para o número 0800-942-5900 com as seguintes informações: dia da ocorrência, hora, local, descrição do ocorrido e identificação da linha de ônibus. O atendimento ocorre de segunda-feira a sábado, das 8 às 19 horas. Mais informações podem ser encontradas no site www.osegbus.com.br.