Ela nasceu em uma prisão da Alemanha e só conseguiu ser libertada de lá com a ajuda do clamor popular: foi a partir de uma Campanha Internacional liderada pela avó paterna Leocádia Prestes que Anita conseguiu a liberdade em 1938: ela tinha 1 ano e dois meses. Filha dos comunistas Olga Benário e Luiz Carlos Prestes, ela foi entregue à avó e a Lygia (irmã mais nova de Prestes) pela Gestapo. Detalhe: sem documentos que comprovassem que ela pertencia à família Prestes. "Saí da prisão com um passaporte no nome da minha mãe."
Elas foram até Paris. Quando a Segunda Guerra Mundial se aproxima, contudo, elas têm de ir ao México, para onde iam grande parte dos perseguidos políticos. Tia Lygia acaba criando Anita e, em 1945, elas conseguem vir ao Brasil por causa da anistia política. "Foi aí que conheci meu pai. Eu tinha 9 anos." Em 1947, o Partido Comunista é proibido no Brasil e todos ficam na clandestinidade. Anita e a tia vão para Moscou, em 1950, onde ficam por sete anos e voltam ao Brasil, onde começa a participar dos movimentos políticos até 1964, quando ocorre o golpe. Elas retornam a Moscou (1973), onde Prestes vivia havia dois anos. Voltam ao Brasil em 1979.
Pesquisas
Anita Leocádia Benário Prestes é historiadora e esteve em Curitiba no início deste mês a convite do Arquivo Manoel Jacinto Correa para uma palestra. Em entrevista à Gazeta do Povo, ela contou sobre as pesquisas que tem feito sobre o pai. Para ela, é preciso estudar mais a Coluna Prestes, porque "a figura de Prestes foi caluniada, silenciada e deturpada."A Coluna percorreu 25 mil quilômetros em dois anos e três meses, do Rio Grande do Sul ao Maranhão, com o intuito de derrubar as oligarquias que dominavam o país e fazer uma reforma política. É tida como a maior marcha da história da humanidade. Confira alguns trechos da entrevista.
Quais as inovações da Coluna Prestes no conflito com as oligarquias?
Ela tem uma tática totalmente nova, bem diferente da guerra de posição, que era a que se conhecia [a de soldados que ficam parados e prontos para atirar]. A questão é que o exército não estava preparado para enfrentar uma guerra de movimento que foi a Coluna. Eles se moviam e estavam bem informados porque tinham as potreadas, nome que se dava ao grupo que se afastava para conhecer o território, conseguir gado e alimentos e levantar informações [com a população] sobre o movimento dos inimigos.
O que acontecia quando o grupo chegava às cidades?
A questão é que o governo fez uma política intensa no país apresentando-os como malfeitores e bagunceiros. A população, então, tinha medo e grande parte fugia e se escondia. Mas, depois que conheciam o movimento, tinham prestígio diante da população porque mostravam que combatiam um governo que, para a população da época, só sabia cobrar impostos e significava violência policial.
Prestes lhe contou o que mais o impressionou durante suas andanças?
Ele disse que o que mais impressionou a ele e aos comandantes era a miséria que viram pelo interior do Brasil. Quem vivia na cidade não tinha ideia do horror que era a vida do trabalhador rural. Isso causou um impacto grande que o levou à conclusão de que aquele ideário liberal que tinham não iria resolver aquele problema. Aí que meu pai decide ir ao exterior para estudar, encontrar uma solução para os males do Brasil.
A senhora vai lançar um novo livro com dados inéditos?
Sim, principalmente dos últimos 30 anos da vida de meu pai. Existem documentos inéditos que mostram a evolução do pensamento dele e da crítica crescente que ele faz sobre o partido. Devo lançar o ano que vem.
Na sua opinião, a Coluna venceu?
Embora não tenha saído vitoriosa, porque não cumpriu com o objetivo de derrubar o presidente Artur Bernardes e assumir o poder, a Coluna saiu do Brasil [para a Bolívia] invicta, apesar de muita gente ter morrido pelo caminho. E a repercussão dela foi grande: teve prestígio na crise da República Velha e contribuiu para a chamada Revolução de 30.
Quando Prestes rompe com o Partido Comunista do Brasil?
Ele tentou de todas as maneiras mudar o partido por dentro, discutindo... Quando se convenceu que não tinha como mudar, ele resolve romper arcando com todas as consequências. Aí ele fica sozinho, sem apoio. Só tem um grupo de amigos que vai se reunir e arrecadar recursos financeiros para ele viver seus últimos dez anos de vida. Oscar Niemeyer dá a ele um apartamento. Os amigos deram um carro. E depois ele faz uma coleta mensal para sobreviver.
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