A concordância verbal e nominal é um assunto que sempre levanta polêmica. Às vezes, ganha status de "questão nacional", como ocorreu no ano passado por causa de um livro didático distribuído pelo MEC.
Simplificando bastante: a concordância nominal tem a ver com a relação morfológica de gênero e número mantida entre um nome e seus constituintes. Em "A casa amarela caiu", a palavra "casa" é o nome (substantivo) com o qual o artigo "a" e o adjetivo "amarela" estão em concordância. Se tivéssemos "casas", tanto o artigo quanto o adjetivo iriam para o plural; se tivéssemos "prédio", iriam para o masculino; se fosse "prédios", para o masculino e plural.
A concordância verbal diz respeito à relação entre sujeito e verbo: sujeito no plural leva verbo para o plural. Na frase "A casa amarela caiu", o verbo está em harmonia com o sujeito; em "As casas amarelas caíram", idem.
Feita a pequena revisão, agora vamos ao título desta coluna, que faz referência a minha última ("Os famosos também erram. E daí?"). Nela, transcrevi trecho deste tuíte do atacante do Santos Neymar: "Valeu aos torcedores que COMPARECEU ao hotel", em vez de COMPARECERAM. Talvez eu passe longe de acertar o porquê de Neymar ter cometido esse lapso de concordância, mas vou levantar a hipótese de que ele foi "denunciado" pela sua origem social. O craque veio de uma família pobre, que até pouco tempo em nada se diferenciava da maioria das famílias do Brasil.
E a verdade que gera polêmica é simples: a maioria dos brasileiros pobres e com baixa escolaridade fala exatamente assim: "os torcedores compareceu". Minto. É assim: "Os torcedor compareceu". E também assim: "As casa amarela caiu". A fala parece ter invadido a escrita.
Toda língua é um conjunto de variedades. A concordância de Neymar é representativa de uma delas. Cientificamente tão boa quanto a culta. Socialmente, porém, sem o glamour de um estrela.