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Coisa de alguns anos atrás, a prática de textos nas aulas de Português se resumia basicamente ao trinômio "dissertação, descrição e narração". Lembro-me de que tínhamos de falar sobre as férias, e, pesadelo dos pesadelos, descrever objetos: clipes, canetas e janelas. Às vezes tocava de descrevermos nossos colegas. E aí velhas rivalidades ganhavam vida em textos que exageravam no grotesco. Também opinávamos sobre pena de morte e aborto. As dissertações deviam ter no mínimo 30 linhas e, o mais importante, o recuo dos parágrafos devia estar bem sincronizado.

O tempo passou e o currículo de Língua Portuguesa se renovou significativamente. Hoje já se trabalha de uma perspectiva não mais restrita ao esquema dissertação-narração-descrição. Enfoca-se a produção escrita de uma forma mais produtiva, centrada na compreensão de que todo texto está inserido em um processo de interação. Os textos exigem leitores reais, suficientemente heterogêneos. A ampliação da imagem de nosso leitor para uma realidade plural nos permite pensar – ou ao menos simular – que nossa professora de Português não é a única pessoa para quem escrevemos. Desnecessário dizer o quanto a prática pedagógica se enriqueceu com essa nova orientação.

Também já se tornou bastante evidente que é possível manifestarmos nossa opinião em diversos gêneros textuais, como carta, editorial, charge. Enfim, quando o assunto é texto escrito, o céu definitivamente não é limite. A velha dissertação escolar, com sua estrutura fixa de tantos parágrafos e com fórmulas de introdução e conclusão, limitava e muito a noção de textos argumentativos.

Nem todas as novidades de hoje são rosas e nem todas as práticas de ontem são espinhos, evidentemente. Tive ótimas aulas de análise sintática. Sem chegar ao cúmulo de classificar as subordinadas substantivas em Drummond.

Adilson Alves é professor.

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