Não li o livro No país das placas malucas, do jornalista José Eduardo Camargo. A proposta, segundo o autor, é usar os erros, sobretudo de ortografia, para ensinar às crianças a importância da norma culta da nossa língua. As três "maluquices" que transcrevo a seguir foram retiradas da internet: "Doce de cocô"; "Precisa-se marcineiro meio oficial"; "Borasaria para caro peqeno".
De longe, a primeira placa é a mais saborosa, digo, repugnante. E não tenho dúvidas de que um bom professor poderá fazer dessa novidade gastronômica um delicioso banquete sobre a importância dos acentos. Cada placa tem sua atração. No mínimo, garantirá uma boa risada. Uma aula divertida, digamos.
No entanto, caso o professor se concentre apenas nos detalhes ortográficos, deixará de lado o que julgo mais grave. O grande problema, pelo que pude notar na pequena amostra disponível, é que as placas não se realizam adequadamente como placas. Não exatamente por causa dos erros de escrita e sim porque não obedecem, por exemplo, ao espaçamento adequado para fazerem a informação ficar destacada, visível àqueles que precisam de determinado serviço. As letras quase saem das placas; umas estão em forma, outras em cursiva. A questão a ser trabalhada, portanto, seria como fazer uma placa que atenda aos requisitos básicos de uma boa placa. E aí o professor precisaria ver se essa atividade é realmente importante para sua turma. Pode ser que sim, pode ser que não.
Em todo caso, livros como esses de José Eduardo Camargo acabam sendo úteis não exatamente para um bom trabalho com a língua (embora não possamos desprezar seu potencial), mas como uma narrativa de um Brasil que deixou e continua deixando milhões de brasileiros na estrada, sem educação formal e de qualidade.
No país do improviso, da roubalheira e do jeitinho, até que a turma das placas não se sai mal.
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