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Um dos principais objetivos da escola e especificamente dos professores de língua portuguesa é fazer com que os alunos aprendam a ler as entrelinhas de um texto, ou seja, aquilo que não está explícito, mas que fica pressuposto, subentendido. A leitura do não dito demonstra nossa capacidade de estabelecer relações não percebidas por muitos leitores, atentos apenas ao sentido, digamos, mais literal do escrito, daquilo que está nas linhas, que caminha da esquerda para a direita da página, de cima para baixo.

As entrelinhas estão basicamente em todos os lugares. Nas nossas atividades linguageiras do dia a dia, nas edições dos telejornais, nas relações amorosas, trabalhistas... O dito e o não dito são moeda cujo valor se dá pela soma dos dois lados: não vale somente a cara e não vale apenas a coroa, mas ambas.

Dizer que existe o não dito em muitos textos não significa dizer que existe tudo nesses mesmos textos. Se existisse "tudo" em um texto, nos bastaria ler somente ele. Por que perder tempo com os outros? Como observa Umberto Eco: "Dizer que um texto potencialmente não tem fim não significa que todo ato de interpretação possa ter um final feliz" (Inter­pretação e superinterpretação, p.28).

Das palavras de Eco, passemos às do consagrado escritor Cristovão Tezza: "O que o texto deixava claro, mas que alguns leitores não perceberam (às vezes, em defesa de uma ideia prévia na cabeça, a gente acaba lendo o que não está escrito), é que eu me referia ao mundo do trabalho não especializado, que, em toda a Europa rica, está nas mãos dos imigrantes. Isso não é uma opinião; é um fato". (Por um balde e uma vassoura, Gazeta do Povo, 30/8).

Conclusão: é importante que nossas ideias prévias não nos façam desprezar as linhas e pular direto para as entrelinhas. Porque assim corremos o risco de cair no precipício da interpretação. Onde não há subentendidos, mas apenas equívocos.

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