Deu-se num bar e não sei até que ponto devemos atribuir à cerveja a culpa do ocorrido. Um grupo de jovens falava sobre filmes e aí uma moça disse que havia assistido, pela milésima vez (bêbados são exagerados), ao segundo filme do Homem-Aranha. Mas eis que, na empolgação, ela saiu com esta maravilha: "E já tô com saudades de ver o Peter Parker lançar suas telhas". Isso mesmo: telhas.
Ora, todos temos um colega que, mesmo não sóbrio, percebe nossos deslizes na língua. No grupo havia um chato com esse predicado e logo mandou: "Lançar TEIAS". A palavra está destacada para tentar capturar a ênfase dada.
Rapidamente o grupo se dividiu: teias ou telhas?
Atento à polêmica, mas político como o Conselheiro Aires, o dono do bar lembrou à turma que os salgados estavam quentinhos e me descobriu aos querelantes como professor de português. Com uma didática de fazer capitão Nascimento morrer de inveja, gritei que o Homem-Aranha lança "teias". No improviso tentei um trocadilho horrível: com suas teias ele arranca as telhas. Ninguém achou graça, pois a cerveja não pode operar milagres de tamanha envergadura.
Ainda tive uns momentos de brilho, quando alguns integrantes começaram com as perguntas de sempre e para as quais pessoas da área devem estar preparadas caso queiram causar boa impressão: entrega em domicílio x entrega a domicílio; risco de vida x risco de morte; em vez x ao invés. Felizmente chegaram os salgados e as bocas passaram a se ocupar com coisas mais sadias.
Sóbrio e bem distante daquele ambiente, amarro o assunto desta coluna (parte dele) com o da passada, na qual falei de hipercorreção. A moça desprezou a forma correta (teia) porque se liga a pronúncias do grupo de "paia" (palha), "navaia" (navalha) e, lógico, "teia" (telha de casa).
Sua tentativa de se desvincular de uma língua socialmente estigmatizada levou-a ao erro. Mas rendeu momentos agradáveis a esta coluna.
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