Aconteceu no Jornal da Band do dia 31 de dezembro de 2009. Estávamos nos preparando para estourar champanhes quando Boris Casoy, âncora do telejornal e famoso pelo bordão "Isso é um vergonha!", não resistiu e fez o seguinte comentário sobre as felicitações de Ano Novo dadas por uma dupla de garis: "Que merda... dois lixeiros desejando felicidades... do alto de suas vassouras... dois lixeiros... o mais baixo da escala do trabalho...". Boris foi traído pelo microfone, que, aberto, deixou escapar um pouquinho de sua visão sobre o mundo do trabalho e, portanto, sobre os seres humanos. No dia seguinte, ele se desculpou pela gafe. Mas, em tempos de youtube e companhia, as palavras de Casoy terão uma vida longa pela frente.
Muitas pessoas afirmaram ter ficado decepcionadas com o apresentador e que nunca mais assistirão ao seu telejornal. Outras disseram que a gafe, ainda que ofensiva, é perdoável. São pontos de vista que não discuto nesta coluna. Apenas focalizo o óbvio: em uma sociedade dividida em classes sociais e, principalmente, em ocupações tão distintas, aquilo que podemos falar está de acordo com a função que exercemos, está de acordo com a nossa posição nessa sociedade. O único assunto liberado para todos são os paredões do Big Brother, as estripulias do casalzinho da novela e futebol. Nos demais casos, há uma poderosa voz que nos diz: "Coloque-se no seu lugar!"
Ora, assim como Boris Casoy, muitas pessoas acham que garis (ou "lixeiros", como enfatiza o apresentador) só podem falar de lixo; mecânicos, de motores; prostitutas, de sexo. Sim: há algumas exceções. Pessoas da "baixa escala do trabalho" também podem falar de parentes desaparecidos, de simpatias contra bronquite, dos filhos carregados pela correnteza e dos parentes vitimados pelo tráfico.
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