• Carregando...

Trabalhei muitos anos em cursos preparatórios para vestibular e, consequentemente, conheci a aflição de centenas de candidatos e candidatas na busca de uma vaga em uma boa instituição de ensino superior. Aqui não é necessário lembrar que alunos bem preparados são aprovados e que alunos tão bem ou mais preparados não são. Faz parte da equação número de vagas/número de candidatos. Aqui também não é necessário lembrar que muitas outras considerações podem ser feitas acerca do instituto do vestibular como forma de acesso ao ensino superior. Há inúmeras publicações sobre o assunto. Nesta coluna, detenho-me apenas no pernicioso gesso que o vestibular impõe à educação básica – ou ao gesso que as próprias escolas e professores se autoimpõem. O movimento é recíproco.

Tomemos como referência as listas de livros cobrados nas provas. Como sabemos, as listas apresentam os principais autores brasileiros, aqueles que formam nosso cânone literário. Algumas instituições pedem ainda a leitura de autores portugueses. Autores como Fernando Pessoa, José Saramago, Graci­­liano Ramos, Drummond, Machado de Assis e Guimarães Rosa não deviam ser entendidos como uma obrigação, mas como um direito – assim como saúde e segurança. Um dos objetivos das listas é garantir que, no mínimo, estudantes do ensino médio tenham contato com esses autores.

O problema é que desde muito cedo nomes dessas listas começam a ser introduzidos nas escolas com o mil e um lugares-comuns que costumam acompanhá-los. Machado é irônico e pessimista. A linguagem de Graciliano é seca. Rosa recria o sertão por meio de uma nova língua literária. Assim, desde muito cedo começamos a ensinar nossos alunos a não ler literatura, mas resumos e apontamentos que importantes críticos fizeram sobre esses autores.

De alguma maneira, todos acabamos reprovados.

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]