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Muito oportuna a questão levantada por uma leitora sobre esta afirmação que fiz no final da coluna passada: "Toda língua é um conjunto de variedades. A concordância de Neymar é representativa de uma delas. Cientificamente tão boa quanto a culta. Socialmente, porém, sem o glamour de um estrela". Tudo o que eu disse, aliás, já foi dito bem antes por estudiosos da língua. Apenas ilustrei a lição, tomando um texto de Neymar como exemplo.

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O que a leitora questiona é o fato de eu defender que "uma língua sem concordância" seja cientificamente tão boa quando "uma que tem concordância". A parte que mais lhe causou "espécie" foi o exemplo "as casa amarela caiu".

Vou continuar assombrando alguns leitores com o óbvio: a frase acima tem concordância. Não as marcas (atenção!) de concordância da variedade culta da língua. Aquela que todos nós professores da área defendemos que seja ensinada na escola. Isso, pelo menos para mim, está fora de discussão.

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Vamos raciocinar com calma, sem paixão.

Se alguém disser para você que "Os menino foi levado pela polícia", você vai entender que apenas "um menino" foi levado? Im­­possível. Qualquer falante do português, independentemente do grau de escolaridade, ouve nessa frase que "mais de um menino foi levado". O plural está marcado no artigo "Os". Em "a casa amarela caiu", novamente temos um artigo (as) com a marca do plural e isso é suficiente para que todo o resto se pluralize, se incendeie de sentido.

Quem conhece o inglês ou pelo menos deu umas arranhadas no básico sabe que os adjetivos são invariáveis: blue eyes. E sabem que I love, we love, they love, mas she loves!

Em síntese, cada língua tem seu sistema de concordância. A nossa tem mais de um (as outras também, é claro). Um desses sistemas ganha o status de padrão por ser usado por pessoas de maior prestígio social.

É esse que ensinamos na escola.

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