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A polêmica que se formou por causa de uma passagem do livro Por uma vida melhor trouxe-me à lembrança a cena de um filme (o título me escapa neste momento) na qual a esposa flagra o marido aos beijos com outra mulher. Pego em delito, ele olha para ela e pergunta: "Você vai acreditar no que está vendo ou nas minhas palavras? Ela prefere acreditar no que viu".

Eis uma lição básica de empirismo. O olhar da esposa ultrajada foi definitivo para que seus ouvidos não fossem seduzidos pela desculpa esfarrapada do marido.

Esse quadro tragicômico pode servir de lição a todos nós que nos interessamos por questões da nossa língua: é preciso apurar nossos ouvidos e olhos.

Nossos ouvidos perceberão que a língua portuguesa (assim como todas as línguas do mundo) não é homogênea, mas sim um conjunto de variedades. Está para Babel e não para a monofonia que deve reinar no Paraíso. Isso não depende da vontade de governos, de professores e de imortais da Academia. É a realidade dura e crua.

Nossos olhos perceberão que o trecho do livro em questão diz claramente que o falante "deve ser capaz de usar a variante adequada da língua para cada ocasião". É isso mesmo. O papel dos professores de língua portuguesa é, nas precisas palavras do linguista Carlos Alberto Faraco, registradas pela Gazeta do Povo do dia 19 deste mês, "favorecer a democratização do domínio das variedades cultas e da cultura letrada, domínio que foi sistematicamente negado a expressivos segmentos de nossa sociedade ao longo da nossa história".

Não há uma linha sequer do livro que defenda as variedades populares como padrão. Não há uma linha sequer que diga que a variedade dita culta não seja importante.

Ao meu juízo, o equívoco do livro está nesta redação: "Você deve estar se perguntando: Mas eu posso falar os livro? Claro que pode".

Bobagem. Não se trata de pode ou não pode. Milhões de brasileiros simplesmente falam. E aqui o leitor volte os olhos às palavras de Faraco.

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