Em minha coluna anterior (Eufemismos), afirmei ou dei a entender que Ernesto Paglia não havia gostado de uma bebida que índios do Acre lhe ofereceram. Baseie-me no que disse o repórter depois de tomar o primeiro gole: "A gente tem que aprender a gostar". Classifiquei essa fala de eufemismo, pois me parece bem claro que Paglia procurou uma forma de atenuar sua avaliação. Volto ao assunto porque uma leitora disse que não é possível afirmar que ele não tenha gostado da bebida, pois, segundo ela, faltam marcas para deixar isso claro.
Para quem assistiu à matéria, tudo fica mais fácil, uma vez que é possível ver claramente a reação do repórter depois de ingerir a bebida. É sutil, mas reveladora. A cara dele não é nada parecida com a cara das pessoas que acabam de saborear uma deliciosa iguaria. Mas não é justo recorrer à imagem. O negócio é enfocar apenas a fala de Ernesto Paglia.
Podemos começar pela constatação mais óbvia: se ele tivesse gostado, ele teria dito algo do tipo: formidável, saboroso, delicioso, muito bom, hum, filé, dos deuses etc. Simplesmente porque não havia motivo para ele não se expressar de um modo que ficasse clara sua aprovação. É assim que nos comportamos nessas situações. Um repórter não foge à regra.
Se enfocarmos apenas a estrutura da fala de Paglia, também podemos inferir que "A gente tem que aprender a gostar" é sinônimo (ou de sentido muito aproximado) de "A gente não gosta", por isso é "preciso" aprender a gostar. Quando eu digo "Eu preciso aprender a usar o MSN", estou dizendo que "não sei usar o MSN". Se digo que preciso aprender a tocar tal música, estou confessando que não sei tocá-la.
Portanto, é possível afirmar com segurança que o repórter não gostou da bebida, não a achou saborosa. O que não significa que tenha achado horrível.
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