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Vou focar um tema que surgiu de uma troca de e-mails com meu leitor-colaborador Vinício Bruni. Engenheiro acostumado com os mistérios que permeiam os espaços vetoriais, Bruni também gosta de amenidades, donde sua mania de focar algumas construções recorrentes na escrita contemporânea. Sem aquele discurso de que estão matando a língua etc. e tal. Eis o que ele anota em e-mail: "Ninguém mais presta atenção ou se concentra em assuntos ou temas. Só foca. Repare". Não tinha reparado. Mas o Google me ajudou a focar o assunto ao me oferecer centenas de ocorrências.

São construções erradas? Não. Porque invariavelmente tanto o verbo "focar" quanto o substantivo "foco" acabam funcionando como um curinga. E, graças à natureza versátil dos curingas, não se nota um problema grave de comunicação. Ou seja: dá para entender.

Mas é bom não perdermos de foco que há poucos curingas no baralho e que não são válidos em todo tipo de jogo. Portanto, é importante sabermos jogar com o restante das cartas. Precaver é melhor do que focar.

Vejamos dois exemplos, entre dezenas, colhidos numa gugada: 1) "Agora, a empresa vai focar o que sempre fez de melhor: a produção de fertilizantes". 2) "A Petrobras vai focar seus recursos para a exploração de gás". Embora a informação esteja clara, fica a dúvida se o redator da primeira frase não tinha a carta "priorizar" (a empresa vai priorizar o que sempre fez de melhor) e se o da segunda não tinha a carta "direcionar" (a Petrobras vai direcionar recursos para a exploração de gás). Às vezes, a melhor palavra é aquela bem óbvia mesmo.

Quando ficamos em dúvida, não é feio recorrer a um bom dicionário. Além de servirem para calçar nosso sofá, dicionários também são úteis para questões mais comezinhas –como procurar a palavra mais adequada à situação. É uma questão de foco.

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