Por que persistem em nosso país desigualdades sociais que existem há séculos? Por que, ao contrário dos ingleses, franceses, italianos, alemães e americanos, nossos literatos não conseguem emplacar livros no coração do cânone literário? Por que nosso país não é uma das cinco potências mundiais, diante das quais muitos chefes de governo dobram os joelhos?
Certamente há muitas pessoas que se dedicaram e outras tantas que se dedicam a apontar algumas respostas a essas indagações. Mas é possível, atentando contra o bom-senso, dar uma resposta definitiva às perguntas acima: a culpa é da nossa língua.
Pelos menos foi isso que eu ouvi em um boteco dias atrás. Botecos, de modo geral, nos dão liberdade de falar sobre os mais variados assuntos, sem a necessidade de procurarmos, entre um copo e outro, um arranjo teórico mais elaborado, uma citação bibliográfica precisa, etc. Pelo contrário. Sartre e Ronaldo, Big Brother e metafísica podem ser embalados no mesmo pacote. No entanto, os discursos que entram nos botecos também circulam em espaços menos boêmios.
A explicação que ouvi é a de que nossa língua é muito "irracional", cheia de regras, de detalhezinhos. Veja-se o inglês, por exemplo. A concordância verbal é facílima. Se não bastasse, o adjetivo nunca se flexiona. E o italiano com sua sonoridade inebriante? Ópera em outra língua é ópera? E o que dizer do alemão? Definitivamente não dá para filosofar senão em alemão. Sem dúvida: declarações de amor devem ser feitas em francês. E quanto a nossa "última flor do Lácio"?
Se formos levar a sério todas as bobagens enumeradas acima, sobram coisas mais simples, mais condizentes com sua "natureza". Cantigas de ninar, por exemplo. Ou conversas de botequim.
Adilson Alves é professor.
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