Na semana passada, o Jornal da Globo apresentou uma série de reportagens que apontaram alguns dos muitos problemas de escolas públicas brasileiras. Trata-se de problemas antigos e vergonhosos, entre os quais a precarissima infraestrutura de algumas escolas, a falta de professores em outras tantas, a falta de transporte escolar, a pobreza que humilha milhares de estudantes etc., etc. Creio que todos nós já estamos bem informados sobre essas mazelas.
Interessa-me enfocar uma questão que diz respeito à minha atividade de professor de português. Em um dos quadros, a repórter mostrou o caderno de um aluno de série inicial no qual estava grafada a palavra "visinho" em vez de "vizinho". O problema não era apenas este, como bem destacou a reportagem. A professora havia abonado a grafia com um "certo". Uma vez que no caderno estava registrada uma série de palavras, podemos supor que esse lapso tenha passado despercebido aos olhos da professora. Calo-me quanto à possibilidade de ela não conhecer a grafia correta.
Vamos olhar mais atentamente o erro de escrita, que teve bastante destaque na matéria. Como sabemos, "s" e "z" têm o mesmo som em centenas de palavras de nossa língua: asa, azar, caso, azeite, casamento, azedo, catequese, catequizar... Além disso, quem trabalha com séries iniciais sabe que existem erros produtivos, pois evidenciam que todos nós (e ainda mais crianças em fase de aquisição da língua escrita) estabelecemos analogias muito ricas. Por exemplo: visita, visão, visor, "visinho". Ninguém decora todas as palavras de um idioma. E há muitas arbitrariedades no nosso sistema de escrita que escapam daquelas regras gerais e confortáveis. Às vezes apostamos errado.
Erros de escrita não devem ser abonados, é claro. Mas é fundamental que o professor tenha uma compreensão da natureza do erro para poder ajudar o aluno.