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Milhares de palavras da nossa língua nasceram – e nascem a cada instante – da junção de dois ou mais vocábulos. A palavra "ficha-suja" é um bom exemplo. Claro: bom exemplo apenas para explicar o assunto. Temos um substantivo (ficha) que se junta a um adjetivo (suja) – e a soma dos dois gera uma nova palavra: O político "ficha-suja" foi reeleito em 2008.

O hífen que une os dois vocábulos tem a função de ressaltar que se trata de uma nova palavra. Em "navio-escola", por exemplo, tanto "escola" quanto "navio", embora mantenham seus significados de base, se juntam para criar um novo conceito: local onde candidatos a tripulantes realizam seu aprendizado.

Por outro lado, há compostos em que a analogia não é tão simples assim. Pensemos em "pé-de-moleque". Se somarmos cada um dos elementos (pé+de+moleque), dificilmente chegaremos a um doce de amendoim. Nesse caso, o hífen nos lembra que houve uma mudança radical de sentido.

Outra função bem importante do hífen é a de evidenciar que cada termo da palavra composta mantém a acentuação original, é pronunciado da mesma forma de quando andava sozinho.

Acontece que o tempo passa, o tempo voa. E acabamos perdendo essa noção de composição. É como se nos desse um branco diante da palavra, de modo a esquecermos sua origem. Quando isso acontece, o hífen some, como em "girassol" (gira+sol).

Esse item é abordado pelo Acordo Ortográfico nos seguintes termos: "Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente" (sem hífen). Um exemplo: "paraquedas".

O problema é a expressão "em certa medida". Tudo bem: em certa medida "girassol" e "paraquedas" perderam a noção de composição. Mas "arco-íris" não? E "porta-malas"? Será que depende do modelo do carro?

Adilson Alves é professor.

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