Nesses anos de docência, fui questionado inúmeras vezes por vestibulandos se, de fato, é possível escrever o que exatamente pensamos sobre determinados assuntos, se não há perigo de a banca examinadora recusar certos pontos de vista. Aqui não falo por nenhuma instituição, mas sempre deixei bem claro que, embora não vivamos num estado de exceção, numa ditadura do silêncio, há coisas que não podemos escrever e que não podemos falar em certas situações, em certos contextos. Ou melhor, até podemos. Mas haverá consequências.
Ampliando um pouco a questão e deixando de lado o fato óbvio de que muitas vezes estamos completamente errados em nossa posição, é preciso compreender que liberdade de expressão não é sinônimo de eu falo o que eu quero, na hora que quero e do jeito que quero. Por exemplo, um dia após a vitória de Dilma Rousseff para presidente, uma estudante de Direito defendeu, em seu Twitter, que os nordestinos fossem expulsos de São Paulo no que teve muitos seguidores. Houve protestos, evidentemente, e uma enorme polêmica foi estabelecida.
Pode-se argumentar que se trata de um caso extremo, permeado pela paixão e pelo ódio que caracterizaram a disputa eleitoral de 2010. Mas é justamente nesses momentos de fragilidade emocional que nossos demônios emergem e são traduzidos em palavras que se chocam com outras palavras, com outros pontos de vista. Discursos que vivem na clandestinidade, que circulam apenas em piadas, vêm à tona. E aí o estrago já está feito.
Além disso, é importante lembrar que muitos de nós fazemos parte de instituições que têm direções a serem seguidas e nossos textos (falados e escritos) não podem fugir da linha. Caso contrário, são cortados, editados. Sem falar no risco de demissão.
São as regras do jogo. Podemos mudar de jogo, mas sempre haverá alguma regra.
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