É do leitor Marcelo de Souza a sugestão de dispensar algumas linhas ao uso do advérbio "sequer". Eis a frase, colhida na imprensa, que ele me enviou: "A diretora afirmou que a professora sequer reagiu quando foi ofendida pelo aluno". O correto não seria "a professora nem sequer reagiu"?
Vamos fazer uma visita ao manual do Estadão (p. 266) e ver como se posiciona sobre esse tópico. Só lembrando que o material condensa o discurso da maioria dos instrumentos normativos da nossa língua. Eis o que lemos: Sequer. "Significa ao menos, pelo menos e só pode ser usado em frases negativas". Exemplo de uso correto: "O deputado não apresentou sequer um projeto". Se fizermos a troca pela locução "ao menos", teremos: "O deputado não apresentou ao menos um projeto". Exemplo de uso errado: "Os alunos sequer foram avisados". Vamos à mudança: "Os alunos ao menos (pelos menos) foram avisados". Notem que o sentido é outro do pretendido.
Conforme a explicação exposta, o leitor está certo: de fato, o correto seria "a professora nem sequer reagiu" (a professora nem ao menos reagiu). E podemos seguir essa regra numa boa. Aliás, é ela que observamos aqui na Gazeta.
Mas vamos avançar um pouco no assunto.
Primeiro: "sequer" pode ser usado em frases afirmativas (embora com pouca frequência), como prova o Aurélio: "Tudo se arranjaria se ambos tivessem sequer um pouco de boa vontade". Façamos a troca: se ambos ao menos (pelo menos) tivessem um pouco de boa vontade. Portanto, a lição do manual merece reparo
Segundo: embora nossos principais instrumentos normativos afirmem que "sequer" sozinho não tem sentido negativo (daí o uso de "não", "nunca" e "nem"), há exemplos suficientes provando o contrário. Temos uma clara indicação de que brasileiros com boa escolaridade e que escrevem com frequência tendem a interpretar "sequer" como uma palavra de negação.
E a língua não é estática.