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As duas frases a seguir são possíveis no português brasileiro, sobretudo na fala: 1) Ela pediu pra mim ficar em casa. 2) Eu vi ele ontem no cinema.

Analisando-as da perspectiva dos nossos instrumentos normativos, devemos admitir que ambas apresentam erro no emprego de pronome. Na primeira, usa-se o pronome "mim" na função de sujeito; na segunda, emprega-se o pronome "ele" na função de objeto direto. Sendo assim, é líquido e certo que as duas frases estão erradas. Correto?

Mais ou menos. É líquido que o emprego do pronome desrespeita a norma. Mas não é certo que os brasileiros, incluindo boa parte dos gramáticos, julguem as duas construções da mesma forma.

O fato é que a noção de erro está associada à imagem de quem o pratica. É um equívoco pensar que a língua seja um território isento de valores sociais. Assim como parte da sociedade tende a ser mais tolerante com o banqueiro que causa um rombo de bilhões aos nossos cofres do que com um rastaquera que assalta uma velhinha no porta do banco, na mesma direção é mais compreensiva com erros cometidos por pessoas mais "decentes". Traduzindo para a nossa realidade: os erros dos mais pobres e menos escolarizados são erros mesmo; dos mais ricos e bem escolarizados, um lapso, um tropeçãozinho por causa dessa língua difícil. Culpa da língua.

A primeira construção (Ela pediu pra mim ficar em casa) é recorrente sobretudo na fala de pessoas com baixa instrução formal. Ou no discurso do senso comum: dessa gente que abre a boca para matar a língua e fazer fofoca. A segunda (Eu vi ele ontem no cinema) é extensiva à fala de todos os brasileiros, independentemente do grau de formação e da classe social. É usada por doutores da UFPR e por filhos de doutores da UFPR; por governadores e seus herdeiros políticos etc. e tal.

Dois pesos, duas medidas.

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