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Anos atrás, um amigo enfermeiro me deu a receita do delicioso "Xarope da vovó", uma fortaleza contra a gripe. Dei a receita para minha mãe, que, imaginem, passou para o médico dela. Sabemos que a maioria dos remédios caseiros, incluindo esse xarope, contém mais que o toque de amor de nossas mães e avós: eles são produzidos segundo rigorosos princípios científicos. Quando juntamos o rigor da ciência ao amor de nossas mães e avós, temos um mundo perfeito. É quase bom ficar doente.

Mas vamos supor que um dia precisemos de um transplante de coração. Nesse caso, o mais acertado a fazer é descartar, mesmo que temporariamente, nosso saboroso xarope e procurar um excelente cirurgião. Muitos médicos, aliás, dedicam anos de estudo a essa área. São verdadeiras autoridades no assunto.

Transplantes de coração, no entanto, não são o único "objeto" que merece ser investigado. Longe do glamour desfrutado por algumas profissões, um grande número de estudiosos se dedica, por exemplo, a estudar um objeto chamado língua. Pode parecer estranho, mas a língua pode ser estudada cientificamente. É isso que muitos linguistas e gramáticos fazem. As publicações de qualidade sobre "esse objeto" são suficientes para encher inúmeras assembleias legislativas e centenas de palácios de governos. O problema é que esses pesquisadores não têm poder político. Eles têm "apenas" conhecimento de sobra. Ou seja, quase nada em um país no qual predominam, quando o assunto é a nossa língua, discursos apocalípticos e autoritários, permeados pelo mais repugnante populismo "defensor da nossa língua". Vejam só que coisa estranha: defende-se a língua, mas não os falantes. Basta ver as verbas investidas em educação.

Mas quem disse que há relação entre língua, povo e educação?

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