É impressionante como os brasileiros, de modo geral, cobrem de importância os professores de língua portuguesa. Para desfazer possível duplo sentido da última frase: professores que dão aula de língua portuguesa. Professores merecem ser bem tratados mesmo, independentemente da disciplina que ministram. Aliás, todos os trabalhadores devem ser respeitados. Mas quase sempre a importância que as pessoas dão aos professores de português é decorrente da perpetuação do discurso perverso de que os brasileiros não sabem falar a própria língua. E aí o que era um elogio para nos encher de orgulho precisa ser recebido com desconfiança e preocupação.
As situações em que a baixíssima autoestima do brasileiro em relação à língua se mostra são variadas, mas quase sempre se manifesta em conversas deste tipo: Você faz o quê? Sou professor. Do quê? De português. E aí vem o resto: Eu nunca aprendi direito. O correto é tevê a cores ou em cores? Entrega a domicílio ou em domicílio? E para finalizar: Nossa língua é complicada!
Essa gigantesca inverdade frequenta a boca da maioria dos brasileiros. De pessoas que estudaram pouco ou nada. De pessoas que estudaram em excelentes universidades. Muitos jovens que estão entrando agora na faculdade ou que entraram há pouco tempo reproduzem essas impropriedades com a maior naturalidade. Provavelmente tiveram contato com abordagens bem apropriadas do que significa saber uma língua. Mas tudo ou quase tudo de interessante que ouviram em sala de aula se dissolve no primeiro contato que têm com o discurso insidioso de que nossa língua é um mistério que só se releva a uma minoria de bem-aventurados. Trata-se de uma tremenda bobagem, uma mentira escandalosa. Mas, como é contada e recontada há séculos, ganhou ares de verdade absoluta.
