Posso estar enganado, mas estou seguro de que o presidente do Corinthians, Andrés Sanchez, afirmou isto numa entrevista: "Se eu disse que ia, eu vou ir". Escapa-me o restante do que ele disse, provavelmente o mais importante aos torcedores do Timão. Fixou-me nos ouvidos a locução verbal "vou ir" por se tratar de um fato linguístico muito interessante para quem estuda a língua portuguesa.
Como sabemos, milhões de brasileiros, majoritariamente os de baixa escolaridade, dizem "vou ir", "vai ir" e "vamos ir" como forma de expressar uma ação futura que, na sua vertente culta, é realizada pelo futuro simples do verbo "ir": irei, irá, iremos e irão. A flexão desse verbo no presente do indicativo se fixou também como registro aceito como padrão, tanto que são mais comuns as formas eu vou, ele/você vai, nós vamos e eles/vocês vão. Sirva-nos este exemplo: A Marina não vai no (ao) baile da Camila.
Um exercício bem simples e eficaz para compreendermos esse fato linguístico "por dentro" é nos determos na forma como usamos, de fato, o futuro simples. Em quase 100% dos casos, dizemos vou comprar, vou dormir, ela vai viajar, eles vão votar, em vez de comprarei, dormirei, viajará e votarão. Como se depreende, o futuro simples é realizado na fala (e cada vez mais na escrita) pelo verbo "ir", flexionado no presente do indicativo, mais o infinitivo do verbo principal: ir+comprar= vou comprar.
Nesses casos, "ir" é um verbo auxiliar, desprovido do sentido usual de movimento, deslocamento. Aplicando o raciocínio às locuções vou ir, vai ir, vão ir e vamos ir, compreendemos que as formas flexionadas (vou, vamos, vai) não têm sentido de movimento: elas apenas compõem o sentido de ação futura.
Por último, um lembrete: a locução usada por Sanchez (e por tantos brasileiros) é extremamente estigmatizada.