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Cristovão Tezza

A reunião do ano

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Muitas coisas notáveis aconteceram em 2013, das manifestações de rua à barbárie de Joinville, mas vou escolher uma inocente reunião para comentar neste fim de ano. Trata-se do encontro da presidente Dilma com os ex-presidentes vivos – Collor, Sarney, FHC e Lula – a bordo do Aerolula, na viagem à África do Sul em homenagem a Mandela. O que eles falaram lá no alto? Foi um ambiente cordial? Houve discussões? Ou, emburrados, ninguém conversou com ninguém? Não sei. É difícil imaginar cinco presidentes que passaram e passam a vida trocando impropérios, xingamentos, processos, CPIs, dossiês e até impeachment, súbito se vejam sorridentes em torno de uma mesinha presidencial num intervalo de férias, bebendo uma cachaça e trocando amenidades, enquanto jogam rodadas de pôquer, o Collor na banca. Imagino FHC puxando assunto:

"Pô, Dilma! O Collor e o Sarney estão em poltronas de primeira classe, enquanto eu ganhei um lugar do meio na classe turística, sem janelinha. Sacanagem."

"Foi sorteio! Foi sorteio!", apressa-se Lula, acendendo o charuto. "Collor, eu pedi duas cartas. Você só me deu uma."

"Comigo não tem malfeito!", diz a Dilma. "O sorteio foi honesto. Se eu souber de alguma coisa errada, jogo para fora do avião."

O presidente Sarney, sempre gentil, sugere à Dilma: "Presidenta, por que você não cria um novo plano econômico? Aí esse povo para de lembrar o Plano Real. Eu fiz o Plano Cruzado e o Brasil inteiro foi fiscal do Sarney! E ainda levei grátis um ano a mais na presidência".

"Grande coisa", resmunga a Dilma, pondo 200 fichas na mesa. "Eu vou ganhar mais quatro só com o Bolsa Família. Não quero carta nenhuma. Tenho um royal straight flush na mão. Quero ver vocês me baterem."

"É blefe", resmunga FHC.

"Eu sempre pago pra ver", diz Sarney. "Aposto na Dilma, no Collor, no Lula e no FHC. E no Eduardo Campos, no Aécio e na Marina. E 200 fichas no Coringa."

"E dizer que eu perdi meu governo por causa de um maldito Fiat Elba", lamenta-se Collor, dobrando a aposta. "Os 200 da Dilma, mais 400. Perto do povo do mensalão, o coitado do PC Farias foi café pequeno. Saudades da casa da Dinda!"

"Quem manda ser tatu", diz a Dilma. "Por que não fez faxina? O povão é chegado em vassoura."

"Bem, o meu pessoal tá todo preso", e Lula dá uma baforada. "Culpa da elite! Eu cubro os 400 do Collor. Não vejo a hora do mensalão mineiro. E cadê os que compraram a reeleição do FHC?"

"Até parece que vocês não gostam de reeleição", resmunga FHC, conferindo disfarçadamente um par de setes. "Eu tô fora."

"O quê?! O Collor subiu para 400? Vou tabelar as apostas", irrita-se a Dilma. "Aposta, agora, só com financiamento público!"

"Apertem os cintos que o Aerolula é nosso!", vibra Lula.

Não sei se foi assim; se algum Snowden da Abin não vazar a gravação, ninguém saberá. Enquanto isso, este escriba deseja um ótimo 2014 a seus amáveis leitores.

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