Ninguém mais sabe cobrar pênalti ou os goleiros melhoraram nos últimos tempos? A célebre paradinha na cobrança do pênalti tem sido fonte de desgraças basta o goleiro não se mexer e o atacante entra em paralisia. Do jeito que a coisa vai, cobrança de pênalti boa é aquela bomba mortal chutada para onde o nariz aponta; mesmo que o goleiro pegue, cai sentado atrás da linha, sem ar, com a bola no colo. O resto é talento, que não dá em árvore.
Tenho um lado masoquista. Sempre que as coisas estão tranquilas comigo, resolvo escrever sobre o que penso do governo Lula. Recebo pilhas de xingamentos. Alguns na canela: "Capacho dos meios de comunicação!" (No meu tempo seria "lacaio do imperialismo!") Outros bem-humorados, como o leitor que me prefere sem assunto. Tudo bem. Só me irrito quando inventam que tenho preconceito contra a fala do Lula. Passei anos dando aula de variedade linguística; sempre frisei a diversidade natural da língua, a sua visibilidade nas últimas décadas pela mobilidade social do país e a questão política implícita no estabelecimento da língua padrão (que nos dá acesso ao mundo da escrita). Reclamar da linguagem de Lula é simples preconceito. A sua linguagem, aliás, é um dos toques centrais de sua empatia. O direito à diferença, entretanto, não pode ser compreendido como um "habeas corpus" político. Quando Lula vai a Israel e diz que o vírus da paz está com ele desde o útero da mãe, quando defende Sarney no Senado e abraça o Irã de Ahmadinejad, quando diz que o mensalão não existiu, quando despreza os mortos de Cuba, quando delinquentes de seu partido são apenas "aloprados", quando publicidade de Estado vira campanha eleitoral, quando nos empurra Dilma goela abaixo caramba, o problema decididamente não é gramatical.
Aflição de recém-aposentado (ou recém-autônomo, o meu caso) é a lacuna da velha rotina. Parece que, sem repetir os gestos que se repetiram durante 30 anos, a vida perde o sentido. E sem o olhar do chefe, quem vai me vigiar? É a versão barnabé da dúvida metafísica de Dostoiévski, em Os irmãos Karamázov: Se Deus não existe, tudo é permitido?
Sei não, mas o Atlético está começando a pintar como um time digno de ser levado a sério neste 2010. Poucos técnicos entenderam os jogadores que têm à disposição e puseram a equipe a jogar com vontade de ganhar (e ganhando) como Niehues. Só fico na torcida para que, no Brasileirão, não resolvam substituí-lo pelos medalhões rotativos de sempre.
Distraído que sou, não cumprimentei Curitiba pelo aniversário. Vai uma síntese do polígono que me formou, desde 1961: Rua Mateus Leme, Grupo Escolar Tiradentes, os leões do Passeio Público, a Praça do Homem Nu (a mulher, por pudor, se escondia atrás do Palácio do Governo), a Biblioteca Pública. E o Colégio Estadual, onde durante sete ótimos anos aprendi a escrever essas mal traçadas linhas.
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