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Cristovão Tezza

Anotações para uma conversa de bar

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Nesta vida de camelô literário, em que me tornei laranja de mim mesmo, dando palestras, estou ficando especialista em hotéis. Agora mesmo escrevo de uma cidade do sul, cinza, nevoenta, fria, coberta de chuva. Pela imponência do hall, o granito do chão, o estilo retrô e a altura do pé-direito, o hotel certamente já foi célebre. O apartamento tem móveis em imbuia, espaços generosos, e, como sempre, descubro meia dúzia de tomadas em locais inóspitos acendendo luminárias sem lógica. É o único ponto em co­­mum entre todos os hotéis, sejam ricos, pobres ou remediados – iluminam mal, talvez na tentativa de agradar a todos os usos ao mesmo tempo. Mas, com certeza, os projetistas nunca leram um livro na vida e não imaginam que o hóspede tenha eventualmente esse estranho hábito.

Com a experiência, vamos pe­­gando macetes. Leve sabonete de casa, ou você terá de se contentar com a barrinha branca, com jeitão de soda cáustica, que mesmo os mais luxuosos hotéis gostam de oferecer. Mas acho sensacional quando encontro na cestinha de gentilezas aquela pequena esponja de engraxar sapatos, que só vi em hotel. Se usar internet, calcule bem – talvez você tenha de pagar em um único dia a mensalidade de um modem para viagem, desses que ofertam por aí. São vagarosos, mas quebram o galho. Aliás, cobrança de internet em hotel é outro mistério – imagino que o serviço deve ter um custo menor do que os tubinhos de xampu que põem à disposição do hóspede, mas a conta é agressiva. Pensei que era exclusividade do Bra­­sil, mas o Hilton, filial da Austrália, cobra tanto que (eu vi) até escritores internacionais ricos e famosos protestam no balcão como se fossem brasileiros. Escritor é reclamão no mundo inteiro. Já nos hotéis da França, em nome de um socialismo atávico, a internet é grátis.

Uma coisa é certa: o uso do telefone é mortal. Só disque um número em caso de desespero. Passei anos resistindo ao celular, até que me convenci a comprar um pelas contas de telefone na hora de sair dos hotéis. Eles cobram até sinal de ocupado. Televisão, que é em geral o item mais bem servido, não me interessa em hotel – só para zapear preguiçosamente o controle remoto e, comprovada a falta total de alguma coisa interessante (nunca passa jogo do Atlético nas cidades e nos hotéis em que me hospedo), desligo em seguida. Já o frigobar é item indispensável. Fico olhando aquelas embalagens de chocolate e salgadinhos, calculando calorias, até me decidir, calvinista, por uma garrafa de água sem gás. Para tomar banho, cada torneira de água quente é um caso. Algumas explodem vapor. As mais modernas exigem um cálculo preciso da alavanquinha de quente e frio – um esbarrão ali é erro grave. E em alguns hotéis a água quente está na torneira da direita. Como sou um perfeccionista teimoso, acho isso uma barbaridade.

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