Sou um osso duro para receber homenagem. Um pouco por timidez e muito por autocrítica (a sensação de que quem me homenageia está de fato levando gato por lebre), acabo ficando quieto no meu canto. Bicho-grilo anos 70, não fui nem à minha própria formatura. Mas ser homenageado pelo Atlético Paranaense, meu time do coração, isso é irrecusável. Na verdade, peguei carona na homenagem ao Felipe, meu filho. Tudo bem – a malandragem quase inocente faz parte da cultura do futebol, o pai explorando o filho, de modo que lá fomos nós, no jogo crucial contra o Vitória, onde recebemos, num encontro de uma simpatia e de uma simplicidade maravilhosas do Departamento de Imprensa do clube, uma placa muito bonita, que já está em lugar de honra aqui em casa. E mais duas camisas personalizadas e autografadas, que, junto com a placa, têm sido objeto de veneração dos atleticanos amigos, veneração regada a cerveja e a gritos em cada lance emocionante, que têm sido em grande número – é verdade que em geral mais de susto que de alegria, mas vamos levando.

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E que jogo contra o Vitória! Como se repetiria contra o Botafogo, tudo certo, o time jogando razoavelmente, exceto aquele chute final que põe a bola na rede, mas que para nós se recusa a entrar. Uma tortura chinesa. Antes de começar, perguntaram ao Felipe qual seu ídolo, e ele tascou imediatamente "Alan Bahia!" – justíssimo, afinal, porque foi o Alan Bahia que fez o gol da vitória e o milésimo gol atleticano nos brasileirões, além de nos salvar, com um golaço, de uma derrota contra o Botafogo. Mas eu acho que o verdadeiro herói atleticano desse ano, dentro de campo, foi o Galatto, que com a ponta dos dedos vem nos resgatando de um desastre muito maior; e, fora do campo, nosso São Geninho, esse técnico extraordinário cuja misteriosa alquimia com o rubro-negro em poucas semanas transformou uma nau de desesperados em alguma coisa sólida parecida com um time de futebol e até com momentos verdadeiramente bons. O homem certo, no lugar certo, na hora certa – poderia ter sido já lá naquela fatídica terceira rodada para nos poupar de um ano tão ruim, mas nesse caso o futebol teria lógica e perderia a graça. Parece que alguma substância masoquista faz parte inseparável desse esporte. Torcemos para sofrer, e sofremos mesmo – não é brincadeira. Mas sofreríamos muito mais, por 2009 inteiro, se não tivéssemos o Geninho para acertar o time. Pela primeira vez levar um gol já não é derrota certa; pela primeira vez, duas vitórias seguidas; pela primeira vez, uma boa seqüência sem perder. Ainda estamos a perigo, mas não tenho nenhuma dúvida de que nos livramos da queda. As razões técnicas ficam para os especialistas em futebol da Gazeta, dos quais sou leitor aprendiz e atento. Falo como torcedor mesmo, dos tribais, que tentam desviar a bola para a rede só com a força do pensamento.

Cristovão Tezza é escritor.

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