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Estive em São Paulo semana passada, viajando a trabalho. Traumatizado por Curitiba, sempre acho que vai faltar táxi, mas táxi é uma coisa que funciona em São Paulo. Durante anos a fio, não me lembro de ter sido enganado por um taxista paulistano, assim como nunca fui enganado por um taxista curitibano – taxistas, em geral, são profissionais corretos e competentes; a diferença é que lá é muito fácil conseguir um táxi. São Paulo sabe que táxis são parte fundamental da mobilidade urbana; Curitiba não percebeu ainda.

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Mas, ao chegar ao hotel e tentar acessar a internet, descobri que o uso do wi-fi custaria R$ 60 por dia, a uma velocidade de lesma. Nesses assaltos digitais, costumo usar meu modem 3G, que também é ruim e custa caro. Serve para uso esporádico, em emergências. A internet móvel é para nós uma das coisas que custam muito e funcionam mal em toda parte. No Brasil, internet ainda é luxo, não necessidade básica. Na semana anterior, eu havia ido a Paranaguá, conversar com estudantes na Biblioteca Pública Mário Lobo – aliás, um espaço que funciona, com um acervo pequeno, mas excelente, uma festa para o leitor – e descobri que minha operadora não pegava 3G. Coisas que não funcionam. Já a estrada funciona bem à noite, toda iluminada com olhos de gato. A praça de pedágio também funciona como um relógio – e pelos 90 km cobra o pedágio mais caro do mundo.

Outra coisa que funciona no Brasil é o jeitinho, o que significa que tudo que vem acoplado a ele não funciona. O jeitinho, com seu riso amarelo, é o atestado do fracasso nacional. O país continua inteiro um grande e atravancado empreendimento de Estado, como foi desde sempre – e tudo funciona mal, também como sempre. A última esperança eram os estádios da Copa, orgulhos monumentais do atual momento brasileiro. Enfim, algum padrãozinho Fifa qualquer para animar a turma. Também isso está difícil – cai um guindaste lá, embarga-se uma obra aqui, mal se explica uma verba acolá, em toda parte o dinheiro público atravessado por gigantescas instituições estatais, alimentando a indústria do atraso e do regime de urgência. Para coroar a imagem, cenas de selvageria explícita nas arquibancadas sem segurança. Mas uma coisa brilhou e está funcionando: o Bom Senso F.C., talvez o movimento político mais sensacional que já surgiu no futebol brasileiro, uma indicação de rara maturidade e unidade dos jogadores diante de uma estrutura encarquilhada.

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Enquanto isso, o PIB continua sem funcionar. Mas a pior disfunção de todas, o grande gargalo do sonho brasileiro, prossegue teimosamente sendo a educação pública do país, com o seu ensino médio, todos os anos, espirrando milhões de adolescentes iletrados para fora e para sempre das salas de aula. A coisa não funciona. E com essa multidão de excluídos não haverá jeitinho. Só combustível para a barbárie.

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