A volta a Curitiba e a vida loquaz de cronista me levam aqui e ali a enveredar meio com má vontade na irritação da política, resistindo à tentação de ficar na minha área de origem ou mesmo de tirar logo outros 50 dias de férias. Desacostumei ao trabalho a vontade é voltar à praia e rever meu amigo lagarto e sua brava família. Mas não devo me entregar à depressão! Vamos, cronista! Avante! Não se deixe abater! Como na Associação dos Alcoólicos Anônimos, o importante é vencer mais uma terça-feira!
Deveria me ater, quem sabe, aos chamados "temas culturais", mas, procurando um assunto, me assustei com o noticiário sobre os ataques em Santa Catarina, que, pouco a pouco, parecendo nada, vai revelando apenas a ponta do monstro oculto da violência brasileira.
Tudo somado, pondo na balança a importância econômica, o tamanho, a população, a diversidade e a complexidade de produção de riquezas do país, o Brasil é, de longe, o país mais violento do mundo, segundo os dados mais recentes (as estatísticas podem ser encontradas aqui: http:// pt.wikipedia.org/ wiki/ Anexo: Lista_de_países_por_taxa_de_homicídio_intencional). São 21,7 homicídios anuais por 100 mil habitantes. Para se ter uma ideia, comparando os países da célebre lista dos emergentes, na Índia são 2,82; na China, 2,36; e mesmo na Rússia, cujas máfias, herdeiras dos despojos da KGB, tranformaram o país num caldeirão de violência, o número não passa de 14,9 homicídios, bem menos que no Brasil.
Tudo bem devemos ponderar que há notáveis diferenças culturais nessa tabela. Na China milenar, um país de cidadãos completamente desarmados, a violência passou a ser monopólio exclusivo do Estado; e a Índia é a prova de que não há nenhuma relação mecânica entre pobreza e violência, quando a cultura social e religiosa de castas funciona como contraponto. E a Rússia, historicamente uma violenta arena de choque entre Oriente e Ocidente, viveu o século 20 praticamente inteiro debaixo de um Estado policial, amoral e, até a morte de Stalin, homicida. Entretanto, competindo com essa folha corrida, o Brasil, o país do "homem cordial", todos os dias mata mais gente do que lá.
É verdade que a América do Sul é muito violenta, mas, mesmo assim, aqui só estamos melhores que a Venezuela (49 homicídios por 100 mil habitantes) e a Colômbia (35), que são dois casos praticamente de guerra civil. Porque outro cruzamento interessante é com os números da violência política específica de Estado: as ditaduras militares na Argentina e Chile mataram em torno de 20 mil e 3,5 mil cidadãos respectivamente (contra cerca de 500 mortos e desaparecidos no Brasil), mas hoje os índices de homicídios lá são de apenas 5,27 (Argentina) e 1,6 (Chile), enquanto nós prosseguimos chafurdando em mortos. Por quê?
Se temos ainda alguma ambição civilizatória, podemos começar com essa pergunta.
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