A sensação que se tem, lendo o noticiário, é que o Brasil tem dois grandes projetos nacionais: a Copa do Mundo e o trem-bala. A Copa do Mundo tem a vantagem de existir de fato, mas é melancólico que um empreendimento de natureza periférica na vida do país acabe por se tornar no nosso imaginário a síntese de seus projetos. Para muitos, é a esperança de que, graças ao futebol, os aeroportos melhorem um pouco e que os estacionamentos fiquem mais confortáveis. É verdade que nenhuma escola será aberta em nome da Copa, exceto, talvez, as escolinhas de futebol, mas também seria pedir demais. Alguém já me disse que a nova calçada da Ubaldino do Amaral está sendo feita por causa da Copa, o que seria extraordinário. Claro que a Copa dá emprego, daqueles sazonais, e alguns empregões, esses em geral duradouros; e pelo menos o Corinthians terá seu Itaquerão, para a glória definitiva do presidente Lula. Não posso me queixar: meu também glorioso Atlético terá sua cobertura e sua arena completas e em breve, também graças à Copa, poderemos brilhar de novo na Baixada. Ah, e parece que será permitido beber uma cervejinha no estádio durante os jogos. Nem a ONU conseguiria tanto.
Dizem os especialistas que, desde a queda de Collor e a implantação do Plano Real, a questão econômica brasileira está equacionada com uma boa dose de racionalidade, qualquer que seja o governo. Isto é, a inflação passou a ser definitivamente um mau negócio (não por sabedoria econômica, mas por um motivo prático: não há candidato que sobreviva a uma inflação descontrolada, e esse é o nosso único trunfo), e já há uma vaga percepção de que gastar mais do que se tem também é perigoso; isto é, aquele saber elementar que todo mundo aprende desde criança começa a chegar à cabeça gigantesca, e muito lenta, do Estado. Há entretanto uma sensação de paralisia: reclama-se do pouco crescimento do Brasil, mas, ao mesmo tempo, sabe-se que o país só pode mesmo crescer em ritmo de tartaruga, ou haverá um colapso total. Ponham-se 7% de crescimento anual e vai faltar, mais do que já falta, estrada, porto, aeroporto, ensino, água, mão de obra especializada, luz, serviço. E espaço: ficaremos todos sentados imóveis num mar dos carros reluzentes de IPI reduzido em ruas entupidas. E vão faltar, principalmente, ideias. Não por acaso, o Brasil tem hoje provavelmente o pior Congresso, as piores Assembleias e piores Câmaras Municipais de todos os tempos. (Exemplo: vereadores de Curitiba tentaram transformar a licença do táxi num bem hereditário. Com esse quadro, alguém tem alguma esperança?) Nossa brava presidente passou seu primeiro ano desmontando o governo que ela mesma montou, pelas vicissitudes políticas. Espero que a tal faxina dê certo, que ela esqueça o trem-bala e enfim pense grande. Mas eu ando pessimista. Acho que é esse repentino frio do outono curitibano.
Deixe sua opinião