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Cristovão Tezza

Livros e tabuletas

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Passando pela Santos Andrade para ir ao Correio, percebi que fecharam a Livrarias Curitiba da esquina – era das últimas livrarias de rua da cidade. Na região, sobrou bravamente o Chain e, enquanto os livros se entrincheiram nas grandes redes dos shoppings (entre elas a própria Curitiba), restam apenas os sebos ao ar livre das ruas.

O que não é pouco: as lojas de livros usados vão acabar se transformando no espaço mais sofisticado do livro de papel – um passeio por uma boa estante de um sebo bem cuidado é sempre uma viagem literária. Melhor ainda: como primos pobres da irmandade preciosa dos leitores, os sebos felizmente permanecem a um passo da calçada, mantendo sua vocação popular à maneira antiga.

O que dizer desta irreversível mudança de panorama do comércio do livro? A reação emocional é apocalíptica, como se, à medida que o tempo passa e, portanto, ficamos mais velhos, o mundo inteiro naturalmente piorasse. Bem, eu sempre desconfio do saudosismo; acho que é preciso repensar essa imagem romântica das livrarias.

No Brasil, salvo gloriosas e raras exceções, as livrarias sempre foram pouquíssimas e ruins, somente disponíveis em centros maiores, num país que considerava os seus poucos leitores também uma reserva de mercado. Isto é, nunca houve uma "era de ouro" do livro no Brasil, um país historicamente iletrado, e a atividade do escritor sempre considerou-se mais ou menos ornamental.

O panorama começou a mudar pela confluência de dois fatores poderosos – o primeiro foi a rápida urbanização brasileira das últimas décadas, com a concomitante modernização de sua economia, a partir do Plano Real, que se manteve no governo Lula, criando uma nova e consistente classe média, com o aumento subsequente da base de leitores. Tudo muito precário, como sabemos – urbanização selvagem, ensino ruim –, mas houve um salto de consumo que também chegou aos livros. O segundo fator foi avassalador: a revolução tecnológica da internet. Ela quebrou a lógica comercial de balcão de armazém do século 19, que aqui continua viva no século 21, e provocou uma mudança radical no sistema do livro. Não há de ter saudades de livrarias que cobravam caro (nas mãos de uma distribuição sem concorrência), não tinham nada nas estantes e não davam a mínima para a literatura. A internet se transformou no canal da mais extraordinária livraria – e biblioteca – da história. E, à já fantástica circulação do livro físico que a internet vem permitindo, acrescente-se o advento da tabuleta digital – este retorno high-tech aos tijolinhos cuneiformes dos antigos sumérios representa outro salto fantástico em defesa universal da leitura.

É claro que o livro de papel não vai desaparecer – continua sendo a mais perfeita invenção do mundo. Mas vociferar contra o livro digital é não entender o potencial democrático de trânsito da informação escrita que ele significa.

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