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Toda eleição abre uma caixa de Pandora dos maus espíritos – tudo parece signo do fim do mundo, o país virá abaixo, o apocalipse está à porta. O jogo do medo contra a esperança é uma brincadeira de bruxas, com efeitos especiais. Abertas as urnas, em geral o mundo volta rapidamente a ser o que era antes, porque pessoas e nações mudam muito lentamente. Mas neste outubro algumas coisas se transformaram de fato, depois de uma sucessão de surpresas desde a tragédia da morte de Eduardo Campos. Primeiro, a explosão emocional da candidatura Marina e o apagamento de Aécio. Em seguida, a chamada "desconstrução" de Marina, termo delicado para a campanha realmente grotesca com que o PT, do alto de seu tempo esmagador na televisão, e mandando às favas os escrúpulos, detonou a candidata. E, finalmente, o crescimento espetacular de Aécio na reta final, como se o vasto sentimento de oposição acordasse e reencontrasse seu rumo.

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O governo Dilma foi muito ruim – o próprio movimento petista "Volta Lula!" já era uma confissão. As jornadas do ano passado indicavam uma imensa insatisfação simbólica pela presidência, uma vez que Dilma parece ocupar o cargo deixando-o vago, do que a interminável presença de alta corrupção no regime é índice inescapável. Há uma base bruta do iceberg vindo à tona, consequência do extraordinário poder político do Estado, que, cada vez mais, se confunde com o governo. É uma simbiose que acaba passando despercebida pelo cidadão brasileiro, que historicamente confunde as duas instâncias. Mas o governo Dilma promoveu como que o entranhamento definitivo da máquina partidária na máquina do Estado, não mais no varejo da velha política, mas na ciência missionária de ocupar todos os poros do Estado de modo a asfixiar sua respiração. O PT é, de fato, o herdeiro bem sucedido da tática do antigo Partidão, de controle capilar da máquina até onde o braço alcança. Diante do frágil sistema político brasileiro, a força niveladora do Estado, com sua aura messiânico-populista, assusta. Seu único projeto de país é a manutenção de uma engrenagem inepta que se autoalimenta.

Hoje o governo não está na Dilma; está nos 39 feudos ministeriais, o país fatiado. Não está na política econômica; está no poder do Banco do Brasil, da Caixa Econômica, dos Correios, do BNDES, da Petrobras. Não está na política social, mas na incontrolável rede de empregos comissionados, ONGs e estruturas sindicais aparelhadas. Não está na educação, mas no controle partidário da máquina de ensino. Há uma virada formidável para trás. Quando uma penca de reitores de universidades públicas vai sorrindo a Brasília beijar a mão da presidente para apoiá-la, ou o dirigente da estatal dos Correios faz campanha aberta pelo governo e todo mundo acha isso muito natural, é o momento de retomar alguma cartilha básica civilizadora que reponha as coisas no lugar.

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